Hoje, às 10 horas da manhã, o deputado André Ceciliano reuniu-se no Palácio Tiradentes com diversos representantes da sociedade civil da área da Cultura, da Comissão de Cultura da Alerj, mais de 25 representantes, entre eles, IAB, Seaerj, os institutos de patrimônio, figuras representativas do mundo da cultura, como Ricardo Cravo Albin, Leonel Kaz, entre tantos outros, e, também presente, a secretaria de cultura do estado e o governador do estado para discutir um tema que tomou conta da nossa cidade. Trata-se da decisão do governo Bolsonaro, através do ministro Paulo Guedes, de vender muitos imóveis na cidade do Rio de Janeiro – mas não só – entre eles, a joia da coroa, que é o Palácio Capanema, o nosso antigo Ministério da Educação e Cultura. Nesta reunião, todos os presentes, sem exceção, demonstraram que esse tipo de política visava desmontar a cultura do nosso estado e que a sociedade não acataria sob hipótese alguma a venda do Palácio Capanema como fosse mero ativo.
Bens tomados precisam ser protegidos, não vendidos
Vender imóveis inservíveis é uma estratégia possível. Mas não se pode dizer o mesmo sobre a venda de bens tombados, que fazem parte da história da cidade. O próprio governo vem investindo lentamente, ao longo dos anos, R$ 100 milhões na recuperação dessa primorosa obra arquitetônica que teve a supervisão de Le Corbusier, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Jorge Moreira, Burle Marx. O anúncio ocorre, justamente, no ano em que a cidade do Rio de Janeiro abriga o grande Congresso Internacional de Arquitetura.
Imaginem vender o Palácio Pompadour ou a Casa Branca!
Guardadas as devidas proporções, é como se o governo francês quisesse vender o Palácio Pompadour ou se os Estados Unidos quisessem vender a Casa Branca. Ninguém nem imagina essas hipóteses, porque tais locais fazem parte da história desses países, assim como o Palácio Gustavo Capanema também faz parte da nossa história – por isso até se chama “palácio”.
Desmonte da cultura no país
É claro que o ideal é o Palácio Capanema continuar sob a gestão federal, abrigando diversas instituições federais da área da cultura. Houve unanimidade contra essa possibilidade que o governo Bolsonaro levantou e não para por aí: é mais uma tentativa de desmonte da cultura do nosso estado.
Unidade e resistência
Falava aqui, ontem, que precisamos ter paciência, resistir e não perder o caminho que queremos percorrer. Ser contra a venda do Palácio Capanema e de outros imóveis que estão nessa relação, como o prédio da Rede e o anexo à Biblioteca, faz parte dessa estratégia de resistência.
Precisamos ter unidade e resistência. Acredito até, visto que o governador, também decidiu ser mediador de conflitos, vai estar em Brasília amanhã, que seja possível – e todos acreditam – que esse imóvel, essa joia da coroa, o Palácio Gustavo Capanema, saia dessa lista. Mas a luta continua, porque outros imóveis também terão que sair dessa lista.
Também ficou decidido, que dali nascerá uma comissão, com, no mínimo cinco, integrada pelo presidente da Comissão de Cultura, deputado Eliomar Coelho, pela secretária de cultura e por três representantes das entidades dessa luta pela preservação cultural dos nossos bens tombados e não tombados.
Representação ao MP sobre essa venda do Palácio Capanema
Queria também informar que o deputado Eliomar Coelho fez reunião ontem da Comissão de Cultura, com a presença, inclusive, de representantes da Câmara de Vereadores. O deputado Eliomar Coelho dará entrada numa representação ao Ministério Público contra esse ato de desatino que a União pretende, ou pretendia, fazer.
Tentativa de venda é agressão à sociedade brasileira e fluminense
Para concluir, afirmo que, independente de que saiamos vitoriosos nesse embate, e o Palácio Gustavo Capanema saia dessa lista de imóveis que serão colocados à venda, somente o fato de entrar nela já é agressão à sociedade fluminense e à sociedade carioca. Como um governo pode imaginar que vai negar uma história que começou aqui, sob o ponto de vista dos tempos mais expressivos do nosso país, do lado do Palácio Tiradentes, na Praça XV, em 1808, com a chegada de Dom João VI? Essa história passou pelo Brasil Império, Pedro I e Pedro II. Aliás, Pedro II está sendo objeto de uma novela, às 18 horas, Tempos do Imperador, e depois pelo Brasil República, quando éramos Distrito Federal. O tempo passou, viramos estado da Guanabara e, posteriormente, estado do Rio de Janeiro.
O que o governo faz é insulto à história brasileira, desrespeito ao estado do Rio de Janeiro e à cidade do Rio de Janeiro. O presidente se elegeu deputado federal diversas vezes com voto do Estado de cariocas e fluminenses. O ministro da economia, um Chicago’s boy, também tem origem aqui no Rio de Janeiro. Tudo isso é inadmissível.
Mudança no machado Xangô da Fundação Palmares – preconceito religioso
E, para culminar, como se já não fosse muito, lia eu que o governo federal quer mudar o símbolo da instituição, que luta e sempre lutou pelos direitos raciais, a Fundação Palmares. Descobriu o presidente que aquele símbolo que via não era uma árvore estilizada: era o machado de Xangô. Então, por preconceito religioso, quer trocar. Ele nega a cultura afro-brasileira. Isto é um desmonte cultural – desmonte cultural.
Palácio Tiradentes também tem os machados de Xangô
No Palácio Tiradentes, por mais que queiram os estudiosos achar que aqueles símbolos são da civilização greco-romana, já na mesa estão lá claramente os machados de Xangô, estilizados possivelmente pelos carpinteiros que trouxeram um pouco dessa cultura afro-histórica.
Temos que ter paciência, persistência e propósito
Portanto, temos um governo federal que desrespeita nossas raízes. Desrespeita tudo aquilo de patrimônio que o nosso estado e o nosso país construíram. Portanto, luta continua. E volto a dizer: temos que ter paciência, persistência e propósito.