Vamos perseguir a cadeia de responsabilidade, por Luiz Paulo

Vamos perseguir a cadeia de responsabilidade, por Luiz Paulo

Tragédias em sucessão: quem são os culpados?

Desde o início deste ano, ocorreram vários desastres. Primeiramente, a tragédia de Brumadinho; em segundo lugar, o temporal no Rio, atípico quanto à força do vento, que chegou a 120km/hora em Barra de Guaratiba e a 110km/hora em Copacabana. Ambos com mortes. Posteriormente, houve o incêndio no CT do Ninho do Urubu, em que morreram dez jovens cheios de esperanças e com futuro imenso pela frente. E, no dia de ontem, numa queda de helicóptero em São Paulo, morreram o grande radialista Boechat e o piloto.

Evidentemente, somos solidários às famílias de todas essas vítimas – vítimas, em grande parte, da irresponsabilidade de gestores públicos e privados. Iniciemos por Brumadinho. Quando se fechar o levantamento de mortos e desaparecidos, seguramente o número final vai passar de 300 – hoje já o é. Trezentas pessoas foram vitimadas, porque a Vale, a segunda maior mineradora do mundo, optou por tecnologia ultrapassada, intitulada barragem de rejeito a montante, sendo que ela própria já detém tecnologias mais avançadas.

Por que se manteve – e ainda há outras barragens na mesma situação – com tecnologia atrasada, com tanto risco? Simplesmente, porque aumenta sua lucratividade, distribuem-se mais dividendos, desconsiderando as questões ambientais e de preservação de vidas. Não é, portanto, só problema de fiscalização, de mais ou menos fiscais, nem problema somente de laudo de engenharia. Deriva de uma cadeia de responsabilidades, no topo da qual estão os gestores da Vale, muitas vezes conciliados com altos dirigentes do poder público.

Não podemos esquecer que o Estado brasileiro precisa ser “desprivatizado”. Como o Governo Federal tem o voto de Minerva para indicar o presidente da Vale – e já estão brigando para indicar o sucessor, prevendo a queda do que lá está –, há, nessa leniência, acordo abjeto do poder público com o poder privado e vice e versa. Ali está caracterizada cadeia de responsabilidades que tem que ser desmontada de cima para baixo. As investigações terão que considerar isso, porque mais de 300 vítimas estarão desaparecidas, com corpos encontrados ou não.

Chegamos ao grande temporal de verão da cidade do Rio de Janeiro. Qual é a novidade? Desde que a cidade do Rio de Janeiro tinha 50 mil habitantes, em 1808, que essas chuvas imensas de verão acontecem. A novidade foi o vento extraordinário. Qual a cadeia de responsabilidade? Não houve mobilização nem aviso para a sociedade de que isso iria ocorrer. Aí que está a cadeia de responsabilidade. Porque hoje, com os sistemas de radares, há como prever com antecedência esses fenômenos naturais.

Vamos, então, ao acidente do Ninho do Uburu, do meu querido Clube de Regatas do Flamengo. É evidente, para quem interpreta o fato, que aquelas eram instalações provisórias. Os seis aparelhos de ar condicionado estão ligados em série, sem nenhum disjuntor, e o contêiner só tinha uma porta, pela qual salvaram-se alguns jovens próximos a ela. Morreram exatamente aqueles que estavam no lado aposto a essa porta. Bastariam duas portas para que não houvesse nenhuma vítima.

Se o projeto foi aprovado ou não foi aprovado no Corpo de Bombeiros, na Prefeitura, é o que deve ser apurado. Identificar a cadeia de responsabilidade e punir. Mas os principais responsáveis são os gestores do Clube de Regatas do Flamengo, quer sejam dessa gestão ou da gestão pretérita.

Por último, morrem o grande radialista Ricardo Eugênio Boechat e o piloto, num acidente de helicóptero. E o helicóptero não podia transportar passageiros. E vamos à cadeia de responsabilidade – os donos da empresa  estão no topo da linha. E, evidentemente, é preciso averiguar o que aconteceu com o helicóptero para ter tido essa pane. Mas o fato é que tudo isso são cadeias de responsabilidades que só são averiguadas quando a tragédia acontece e não há nada preventivo em relação a isso.

Há, em nosso país, um conjunto de outras hipóteses, que abordarei posteriormente, para mostrar que outros acidentes, em outras áreas, poderão ocorrer por essa omissão.

 

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