Infelizmente, é preciso retornar ao tema do Covid 19, para reafirmar minha decepção e tristeza sobre o Plano Nacional de Imunização, que deveria estar sendo coordenado pelo ministério da saúde. O governo federal, em posição negacionista quanto à eficiência e a eficácia da vacinação, com piadas e insinuações de que esta não era a saída real, negando a ciência, promoveu grande atraso na aquisição das mais diversas vacinas para o Brasil. Depois, fruto da pressão popular, aderiu à vacinação, mas só contando com as vacinas de Oxford, gerenciada pela Fiocruz, e Coronavac, gerenciada pelo Butantan.
Com 2 vacinas, não há agilidade na vacinação
Diante desse fato, não temos doses suficientes para imprimir a velocidade adequada de vacinação dos brasileiros. Vamos em lento passo a passo, embora, agora, correndo atrás de outras vacinas, como, por exemplo, a Sputnik, a Janssen e outras. O fato é que, hoje, estamos limitados às doses que vieram importadas da China, quer seja as para aplicação direta, ou a vinda do IFA para a produção da vacina no Brasil.
Governo federal não definiu claramente as prioridades
Mas a tragédia não para aí. O governo federal, a quem cabe a coordenação do processo, não definiu, de forma clara, quais seriam as prioridades de aplicação das vacinas. Levantou a questão dos idosos acima de 60 anos e dos profissionais da saúde, mas não detalhou como, nesses segmentos, se definiriam as prioridades de vacinação. Com isso, implantou-se uma desordem na vacinação nos municípios brasileiros. Vou me ater somente ao estado do Rio de Janeiro.
Lamentáveis exemplos no Rio de Janeiro
O comportamento dos municípios de Caxias e São Gonçalo foi uma lástima. As imagens da vacinação em Caxias foram desastrosas, por exemplo, a de um secretário vacinando no meio da rua. As de São Gonçalo também foram horrorosas: pessoas muito jovens sendo vacinadas, quando não se tinha ainda vacinado os mais idosos. Tudo absolutamente sem planejamento ou controle. Agora, nem São Gonçalo nem Caxias têm vacinas suficientes para completarem o processo de vacinação de idosos ou do pessoal da saúde, que estaria na ponta da linha combatendo a doença e ajudando aqueles que se contaminam ou chegam à internação.
Que falta faz o Plano Nacional de Imunização!
O ministro Lewandowski, do STF, chegou a interferir, dando prazo de 5 dias para o governo federal detalhar melhor esse planejamento a ser cumprido pelos municípios. Se não houver esse plano detalhado, vindo da União, através do Plano Nacional de Imunização, cada um faz o que bem entender e não dá certo. Infelizmente, há irresponsabilidade e incapacidade de gerir a coisa pública. E estou dando exemplos, amplamente divulgados, aqui no Estado do Rio de Janeiro. A incompetência marca, de maneira muito forte, os mais diversos governos, seja estadual ou municipais, com as exceções de praxe.
As falsas verdades e seus prejuízos
Ao mesmo tempo, o ministro da saúde da África do Sul diz que “a vacina de Oxford não atende à variante genética da África do Sul”, e aí suspende a vacinação, contrariando os conceitos emitidos pela OMS.
Há uma série de comportamentos que mostram um enfraquecimento daquilo que é a única salvação, para a saúde, a economia, a educação, para o cotidiano das populações: vacinar, vacinar e vacinar.
Se uma vacina “x” tem menos eficiência para a variante da cepa do coronavírus, vamos medir outra. Há vacinas de diversas modalidades. O problema é fazer as pesquisas genéticas e testar, testar e testar; e vacinar, vacinar e vacinar. Porque essas mudanças das variantes vão diminuir na medida em que diminui a contaminação.
Ocorre que, muitas vezes, a imprensa embaralha os fatos: “A cepa da África do Sul”, “A cepa da Inglaterra”, “A cepa de Manaus”. Não são cepas. A cepa é uma só. São variantes da mesma cepa. Tudo isso confunde as pessoas e, no fundo, acaba desacreditando aquilo que é a salvação da humanidade, que é vacinar.
A importância do retorno dos alunos
No bojo disso, evidencia-se que, depois da saúde e dos idosos, a prioridade, obrigatoriamente, tem que ser a educação. O governo do estado apresentou, através do secretário Comte Bittencourt, um bom planejamento para se trabalhar, basicamente com 90% dos 700 mil alunos de forma remota, mas com 10% que não poderão ser atendidos nesse formato, porque não têm nenhum equipamento para usar a internet. Será, então, de forma presencial, nem que seja uma vez por semana, com monitores, mas os riscos de contaminação continuam.
Poucas vacinas, poucos vacinados
Mas como vacinar se as vacinas chegam em pequena quantidade? Aqui na cidade do Rio de Janeiro, o secretário de saúde, não tendo quantidade suficiente de vacinas, fez um escalonamento para o atendimento dos mais idosos, iniciando pelos que têm 99 anos ou mais, a cada dia da semana até um dia, quem sabe, chegar aos 60 – isso se tiver vacina.
Precisamos de organização para atender à população. O Ministério Público tem que ser muito duro com os municípios que transgredirem. Não podemos admitir nada de fura-fila. É essencial seguir os caminhos ditados pelas regras instituídas, para que tudo isso possa dar certo. Quanto mais lento for esse processo, maior é a possibilidade de reinfecção. O ideal, o que não vamos cumprir, é que a população brasileira estivesse vacinada nos próximos seis meses. Vale observar os níveis que Israel já consegue de redução das contaminações e das internações, por já ter atingido patamar mais elevado de vacinação. Aqui ainda estamos no patamar dos 2%.
Irmanados, para sairmos do caos
Este é o caminho que poderá levar à retomada das atividades. Pensemos no prejuízo da paralisação da educação. Cada ano perdido tem um custo imenso para a população, principalmente para uma sociedade estruturada, na sua imensa maioria, de mais necessitados, daqueles que não têm a renda mínima necessária. Discutir a reforma administrativa, a reforma tributária, tudo isso é importante, mas nada disso dá certo se não vacinarmos no mínimo 70% da população brasileira. E 70% da população brasileira são praticamente 150 milhões de brasileiros. Se for de vacina de duas doses, são 300 milhões de doses. Para atingir a meta, teríamos que vacinar, no mínimo, um milhão de pessoas por dia. Não estamos vacinando 200 mil. Estamos presos numa contradição: não se acelera, porque não tem vacina. Este é o nosso grande drama. Devemos praticar no Brasil o federalismo de cooperação. Deveríamos estar, hoje, irmanados, para sairmos do caos em que a pandemia nos meteu. Para isso, temos que ter o mesmo objetivo: vacinar, vacinar e vacinar.