por Luiz Paulo
Tenho a impressão de estar vivendo num país de cabeça para baixo. Vamos aos fatos mais recentes. Onde já se viu o presidente da república, completados já dez meses e meio de mandato, diariamente brigar com alguém? Interfere nas eleições de outros países, briga por questões ambientais com outros países, briga internamente. Não satisfeito, agora resolve brigar com o partido que abriga sua maior base de apoio. É um governo bélico! No qual quem se destaca é o Congresso Nacional, que está tocando – gostem ou não – um projeto de reforma. Se dependesse do presidente, nada daria certo, porque não tem absolutamente nenhuma articulação. Os articuladores no Congresso são os presidentes do Senado e da Câmara, o deputado federal do Rio de Janeiro, Rodrigo Maia.
No Estado do Rio de Janeiro não é muito diferente: é uma desarticulação ampla, geral e irrestrita. Pedi, na Comissão de Orçamento, na de Tributação e em plenário, ao governo, umas vinte vezes, que enviasse para esta Casa projeto de lei para renovar o Fundo Estadual de Combate à Pobreza, para garantir para o ano que vem cinco bilhões de reais. Mas, quando veio, precisou ser retirado, porque veio cheio de problemas. O próprio presidente devolveu porque, inclusive, descumpre tudo que foi acordado no Colégio de Líderes, em dezembro do ano passado, em relação ao Fundo Estadual de Habitação de Interesse Social. Como votaremos o orçamento se a previsão de cinco bilhões de reais não tem amparo legal? E o orçamento que já está com rombo de 11 bilhões! Explicando melhor: como votar um orçamento com previsão de cinco bilhões de Fundo Estadual de Combate à Pobreza, que termina sua validade em 31 de dezembro de 2019? E é na próxima semana.
O governo é de uma lentidão de fazer dó. Os primeiros projetos que chegaram nesta Casa foram retirados, porque estavam todos escritos de forma errada, sem nenhum fundamento jurídico. Lembrando: o nosso governador é um ex-juiz, portanto, advogado formado e concursado, que passou por dois concursos – de defensor e de juiz federal -, mesmo não podendo advogar, por ser governador.
Pouparei todos de colocar nesta roda esquisofrênica a completa falta de rumo do prefeito Marcelo Crivella, do nosso Rio. Em seus frequentes delírios e idas e vindas, confirma o clima que atinge o Brasil.
Passemos a outro tema que também comprova que estamos de cabeça para baixo: contemplando o plenário, não consigo entender, de jeito nenhum, as diversas divisões partidárias que aqui estão. É uma esquizofrenia geral, da qual participo, inclusive, como esquizofrênico, até porque também sou dissidente do PSDB, partido que foi aviltado pelo atual presidente nacional, Bruno Araújo, ex-deputado federal de Pernambuco, e pelo governador de São Paulo, o Sr. Dória. Estou num partido de golpistas, logo eu que me formei na luta contra a ditadura para que tivéssemos democracia no país.
Vemos os discursos de alguns parlamentares e tudo se complica ainda mais: tem gente que está em partido dito de esquerda, mas você houve o discurso neoliberal. Você vê gente de partido neoliberal cujo discurso tem aquele viés vertical do PSL, enquanto os liberais deviam ser liberais na economia e liberais nos costumes, evidentemente, deviam gostar de democracia e não de verticalidade de posições.
Portanto, concluo que este é um momento de esquizofrenia coletiva que a política brasileira está vivendo e a população que está sadia vê isso. A esquizofrenia afeta os diversos poderes. Este é um rótulo que uso para mostrar o desequilíbrio emocional que está tomando conta pela radicalidade das posições.
Espero que esse surto possa ser amainado com o tempo, porque, ao longo desta semana, a única alegria que tive foi o Flamengo ganhar do Grêmio de 5 a 0, foi a única alegria, porque, fora disso, só tristeza, falta de perspectiva. Mas vamos em frente. Em algum momento, tenho esperança de que conseguiremos, por caminhos que a racionalidade nos apontará, superar a esquizofrenia e encontrarmos um rumo.