por Luiz Paulo
Pela segunda vez em 30 dias, preciso falar sobre tema que, embora sobre a cidade do Rio de Janeiro, transfere-se, infelizmente para outras regiões do Estado.
O Estado do Rio de Janeiro deriva da fusão de dois Estados: a Guanabara e o antigo Estado do Rio de Janeiro, fusão feita em 15 de março de 1975. A Guanabara era um Estado pujante, porque derivou da Capital Federal. Um Estado pequeno, com um recolhimento brutal de ICMS, na época em que também não existia o Tesouro administrando o IPVA. O IPVA derivou do que existia na época da TRU – Taxa Rodoviária Única – que ia toda para o órgão rodoviário.
Naquela época, existia uma lógica perversa de incentivar e querer resolver os problemas das cidades com pontes e viadutos, tendo sido construídos, portanto, muitos no Brasil nesse período. Ao mesmo tempo, dentro da ditadura, no período de Brasil grande, também houve grande estímulo à construção de sistemas viários.
As estruturas que são chamadas em Engenharia obras de artes são antigas, calculadas em normas técnicas que foram sendo modificadas ao longo dos anos. E o mesmo argumento vale para os túneis e suas abóbadas. Jamais essas estruturas foram adequadas às novas regras estruturais vigentes. Além do mais, o Rio de Janeiro tem um fenômeno chamado corrosão. O aço, quando mal recoberto, começa a explodir a armadura dentro do concreto, e aí saem lascas de concreto, danificando a armadura e a segurança de uma viga, de um pilar ou de uma laje.
Esta situação é recorrente no Rio de Janeiro, infelizmente. E a Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro não faz vistorias rotineiras, não tem adaptação dessas estruturas à realidade de forma sistemática e, pior e mais grave ainda, não faz nem a manutenção nem a recuperação estrutural.
Verifico que a galeria do Túnel Rebouças no sentido Rio Comprido/Lagoa, nesse período chuvoso, está com excesso de infiltração, que passa pela abóboda de concreto e oxida a armadura que está ali dentro. Com menos intensidade, o mesmo também acontece no sentido oposto, Lagoa-Rio Comprido.
Houve época em que, das 23 às 5 h, fechava-se o Túnel Rebouças – primeiramente, uma galeria; numa outra semana, outra galeria -, para fazerem as vistorias e conservação. Não se faz mais. E o tempo trabalha contra. Os acidentes começam a ficar cada vez mais iminentes.
O viaduto Saint Hilaire, que atravessa a Rua Jardim Botânico por baixo, volta e meia é abalroado por caminhões de carga. E, por cima, está cheio de trincas e já se vê armaduras expostas. Esse fenômeno acontece em todos os lugares. Foi isso, associado a um escorregamento, que fez derrubar uma transversina do Túnel Acústico da Lagoa-Barra, exatamente atrás da Pontifícia Universidade Católica. É como se fosse tragédia esperada com as autoridades de braços cruzados. Inexorável. O regime de chuvas não se altera no tempo. Tudo que evapora retorna. Não tem uma gota d’água que caia do céu que não seja fruto da evaporação. O que altera é que a chuva cai hoje com mais intensidade em poucos lugares. Isso muda os aspectos ambientais e a capacidade dessas regiões suportarem o excesso de chuva.
Muitas vezes vê-se uma encosta absolutamente verde, onde ser humano nenhum tocou, e aparece um grande escorregamento. Por quê? Porque, geologicamente, aquele manto de solo está trabalhando sobre a montanha rochosa, o excesso de água vai penetrando entre o solo e a rocha e um dia o solo escorrega. Isto é da natureza. Imaginem esses excessos todos, esse desequilíbrio da natureza numa cidade que larga as suas estruturas ao léu!
O desabamento da PUC é um evento de alarme para que as autoridades municipais se preocupem e não apenas deixem passar o impacto e fingir que nada aconteceu. Depois, quando acontecer nova tragédia, o prefeito vem a público dar explicações sobre assunto que ele sequer conhece. Chamou a cobertura do Túnel Acústico de telha. São estruturas preparadas para isso. Não foi conservado e, além do mais, houve escorregamento previsto sobre elas, com capim nascendo à vontade. Evidentemente o sinistro acontece.
Se observarmos o Orçamento, vemos que essas dotações são as primeiras a serem cortadas. Estou muito temeroso com o que possa acontecer. São vias, como, por exemplo, o Túnel Rebouças e Viaduto Saint Hilaire, com fluxo de veículos brutal, que pode chegar a 150 mil veículos por dia nos dois sentidos, o que pode promover uma tragédia nesta Cidade. Fica o alerta para o Sr. Prefeito da cidade do Rio de Janeiro, que vale também para qualquer outra prefeitura que tenha muitas estruturas já edificadas, principalmente com vida útil muito longa.