Segurança se faz com inteligência; não com ações retumbantes
Cheque Mate - Foto: W.J.Pilsak https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a7/Checkmate2.jpg

Segurança se faz com inteligência; não com ações retumbantes

por Luiz Paulo

Gostaria de voltar ao tema das armas, objeto de grandes polêmicas. Ao usar, o twitter com crítica a uma declaração do Governador, onde afirmou que, se pudesse, abateria traficante com míssil. É uma absurda declaração, porque, se fizer isso, vai abater não só o traficante, mas tudo que estiver atrás dele.  O poder destrutivo de um míssil é imenso. Serão perdidas vidas humanas importantes, que não têm nada a ver com o narcotráfico, inclusive até bravos soldados da PM, que podem estar numa posição de cerco.

Ao fazer essa crítica no twitter, fui violentamente repelido por muitos daqueles que não conseguem entender que para cada local de ação cabe uma arma distinta. Não dá para, em área de comunidade, querer combater um miliciano ou narcotraficante com lança-chamas, com bomba Napalm, com Exocet. São armas de guerra. Isso não quer dizer que a polícia tem que subir com revólver 38. Tem que ir com equipamento do mesmo nível, para ter capacidade de resposta ao fogo. Mas esses enfrentamentos, historicamente – não é de hoje –, jamais funcionaram, porque, por mais enfrentamento que haja, ao longo das décadas, só crescem o grupo de narcotraficantes e o grupo de milicianos, dividindo o poder em todas as comunidades. Eles são faces da mesma moeda. São ambos núcleos criminosos. E não estão somente nas favelas. Os grandes estão nos principais espaços caros do Rio.  

O que vai resolver de fato o problema, mesmo que, eventualmente, haja enfrentamento, é serviço de inteligência, perseguir o dinheiro, o dinheiro de quem financia a compra de armas e a compra de drogas. É preciso monitorar as cabeças coroadas, isto é, aqueles que patrocinam a compra e a venda, os chefes dos narcos e das milícias, e prendê-los, quando estão fora das tocas. Recentemente, a Polícia Civil prendeu alguns milicianos usando um processo de investigação, sem dar um tiro. Prendeu-os nas suas respectivas casas.

Então, é claro que, muitas vezes, em situação emergencial, deve haver  enfrentamento, mas a técnica principal deve ser a da inteligência. Não tem outro caminho. E tanto faz para milícia quanto para o narcotráfico. E as milícias também não param de crescer, até porque a milícia tem rentabilidade maior que o narco. Sabem por quê? Porque o narco tem que investir em armamento, comprar matéria-prima para fazer o embolamento da cocaína ou da maconha, pagar aos soldadinhos para fazer a segurança da área, e, às vezes, até patrocinar alguns eventos; enquanto os milicianos se apropriam de vários serviços públicos, inclusive – gás, segurança, internet, TV a cabo – e não investem em nada. Às vezes, miliciano toma o ponto do narco e depois revende para o próprio narco. Revenda de ponto.

Como é que se enfrenta isso? Só com serviço de inteligência. É claro que a Polícia Civil sabe disso, e a Polícia Militar também, além do governador. Mas o que planfletariamente repercute é a política de enfrentamento. E quando dizemos que faz vítimas inocentes, é também dos próprios soldados da Polícia Militar e de uma grande parcela dos moradores. É claro que esses moradores não querem na região deles nem narcotraficantes nem milicianos, mas são obrigados a suportá-los pelo poder bélico que têm.

De muito, a não ser essa última ação da Polícia Civil, na prisão desses milicianos e um que tinha mais de uma centena de fuzis desmontados e guardados, não tenho visto operações contundentes aqui no Rio de Janeiro de apreensão de armas pelo policiamento federal.

Também é necessário que as instituições federais se dediquem profundamente à troca de informações com o serviço de inteligência e às operações de apreensão de armas e drogas, porque, enquanto esse entrosamento não acontecer de fato, e não precisa intervenção para isso, nós não teremos saída, e o tema armamento estará sempre na pauta da Ordem do Dia.

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