Rússia e Ucrânia

Rússia e Ucrânia

O SR. LUIZ PAULO – Sra. Presidente, tenho tido aqui o prazer de, no Expediente Inicial, estar sempre sendo presidido por uma deputada mulher. Acho importante o registro nesses tempos em que vivemos uma onda de discriminação.

  1. Exa. deve ter acompanhado pelos jornais, seguramente, a agressão, no Estado do Espírito Santo – V. Exa. é de Saquarema, ponto médio entre a capital e o Espírito Santo –, em que um treinador de futebol deu uma cabeçada numa auxiliar de juíza, como se isso fosse admissível. Ali, mais uma vez, fica claro o preconceito contra a mulher. Eu não sei se ele seria tão corajoso assim, se iria fazê-lo caso, do outro lado, tivesse um juiz de 1.90m de altura. Mas, estou só acentuando, porque é exatamente o clima de preconceito que estamos vivendo na sociedade brasileira e na sociedade mundial.

Antes de aprofundar este assunto, quero também cumprimentar, presentes aqui, a Deputada Tia Ju, o Deputado Giovani Ratinho e todos os parlamentares que nos assistem por via remota ou até mesmo chegando aqui em plenário. Cumprimento o senhor intérprete da linguagem de libras, que leva a nossa voz a todos os deficientes auditivos e as senhoras e senhores que assistem a nossa TV Alerj.

Quero mostrar, Sra. Presidente, que tenho sido, ao longo dos anos de minha vida – como muitos outros, não solitariamente –, um defensor da democracia liberal. E estamos vivendo um momento triste na nossa humanidade em que os opostos, isto é, aqueles que pugnam, ou por um populismo radical de direita ou por um populismo radical de esquerda que esses interlocutores, nesse embate sistêmico que desenvolvem, tomam conta dos acontecimentos, e o equilíbrio, o bom senso, um processo democrático de mesas de negociação intensas deixam de existir.

Estou dizendo isso porque desde que a Rússia invadiu a Ucrânia tudo se exacerbou. Porque qualquer mulher ou homem, minimamente equilibrada ou equilibrado, vai se posicionar sobre o assunto da seguinte forma: guerra é inaceitável, é injustificável. Quem invade é sempre o culpado. Partindo desta premissa, se isso ocorresse com a intensidade devida, talvez essa mesa de negociação já estivesse concluída e a guerra paralisada. Mas não, ela continua a se estender.

Mais de 10% da população da Ucrânia já deixou o país. O país está ficando em frangalhos, e não é um país pequeno nem de população pequena, são 40 milhões de habitantes, praticamente duas vezes e meia a população do Estado do Rio de Janeiro. Devemos estar na faixa dos 17 milhões de habitantes.

Isto está tendo reflexo no mundo todo.

O Brasil, usando a linguagem popular em relação ao conflito Rússia e Ucrânia, subiu no muro. Num caso como esse, não se posicionar é estar do lado do invasor.

m recente votação na ONU, quando a Rússia foi retirada do Comitê de Defesa dos Direitos Humanos, talvez 25% dos membros que deveriam votar se abstiveram. E se abster é votar a favor do invasor.

Quero ir mais adiante, Deputado – e a Deputada Tia Ju, gostaria que prestasse atenção agora. Comemoramos intensamente – eu, principalmente, e muita gente – a escolha pelo Senado Americano de uma juíza negra para a Suprema Corte Americana – salvo erro de memória – por 53 votos. Felicidade geral, justiça: mulher, negra, competente, preparada, indo para a Suprema Corte, porque lá não é lugar só de homem, mas de homem e de mulher. Sensacional, mas vamos analisar, Deputadas, o resultado da votação. Sabe qual foi o resultado da votação? Cinquenta votos favoráveis e quarenta e sete contra. Quarenta e sete racistas, machistas que negaram o seu voto, porque eram do Partido Republicano, do partido do Trump. Isto lá em Washington, a capital dos Estados Unidos.

Recentemente, Sra. Presidente, no final de semana, ocorreu o primeiro turno das eleições na França. Qual foi o resultado do primeiro turno? O Macron faz aproximadamente – posso errar no percentual – 28%. Ele é o atual Presidente, um homem que se intitulou radical de centro. Cresceu a popularidade dele quando tentou mediar o conflito com o Putin. Mas esqueceu um pouco o cotidiano da política na França. Quem cresceu? A Sra. Le Pen, que é de direita mais do que radical. Ele chegou na frente da Sra. Le Pen com quatro pontos percentuais, aproximadamente, 28 a 24%. Quem ficou em terceiro lugar? O líder e candidato a Presidente da esquerda radical. Ficou um ponto percentual atrás da Sra. Le Pen, que, volto a dizer, salvo erro de memória, deve estar disputando pela terceira vez. É uma radical de direita. Faz campanha dizendo que a França tem que voltar ao passado, que não pode receber imigrante. Tudo que a senhora já conhece.

Haver segundo turno em duas semanas. O Macron vai ganhar? Interrogação, Sra. Presidente. Por quê? O candidato que tirou em terceiro lugar, cujo nome é Mélenchon, assim que acabou a eleição e saiu a prévia – curioso: lá, eles acreditam na boca de urna antes de apurar; eles têm boca de urna como certa -, veio a público dizer o seguinte: “Não podemos ter um voto sequer a favor da Sra. Le Pen por tudo o que ela representa como candidato de direita…”.

Quem disse isso foi o candidato. Mas 30% dos eleitores que votaram nele vão votar na Sra. Le Pen, porque muitos pontos da pauta da extrema direita se encontram com a pauta da extrema esquerda – um deles é a bandeira do nacionalismo exacerbado. Estou querendo mostrar como esse extremismo no fundo se encontra. Quem vai ganhar a eleição? Quem decide eleição lá são esses 23% que votaram no candidato da extrema esquerda.

Essa eleição pontua um pouco o clima que nós estamos vivendo, que está ocorrendo, Sra. Presidente, na França. E a Revolução Francesa nos doou o quê? Igualdade, liberdade e fraternidade. Isso tudo está imbricado nesse contexto que eu mencionei e que chega até nós também.

Eu só espero que a gente consiga caminhar sempre preservando a democracia, a República, os direitos humanos, o meio ambiente e todas as pautas que são caras a todos nós.

 

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