Recebimento da denúncia de crime de responsabilidade com pedido de impeachment do governador Wilson Witzel, por Luiz Paulo

Recebimento da denúncia de crime de responsabilidade com pedido de impeachment do governador Wilson Witzel, por Luiz Paulo

Hoje, dia 5 de novembro, houve o recebimento da denúncia de crime de responsabilidade com pedido de impeachment do governador Wilson Witzel, proposto por mim e pela deputada Lucinha, baseado em quatro grandes fatos: a contratação da Iabas por R$ 858 milhões, a requalificação e, depois, a desqualificação da Organização Social de Saúde Unir, a compra de respiradores superfaturados, parte dos quais não foram entregues e outros que foram entregues inúteis, por causa da sua especificação para o fim a que se destinava. Além do mais, há a questão dos serviços de advocacia prestados pela primeira-dama do Estado a diversas instituições ligadas às Organizações Sociais de Saúde. Essa era a denúncia.

A denúncia teve, na Alerj, diversos níveis de deliberação

Essa denúncia teve diversos níveis de deliberação na Alerj. O primeiro quando o presidente, mesmo podendo decidir monocraticamente, submeteu ao plenário se deveria dar prosseguimento à denúncia, ou seja, examinar a admissibilidade. Sessenta e nove votos confirmaram que deveria prosseguir.

Em seguida, a nomeação da Comissão Especial da Admissibilidade, composta pelos vinte e cinco partidos com assento na Alerj. Foram designados, por votação, presidente – deputado Chico Machado – e relator – deputado Rodrigo Bacellar. 

Passados os prazos legais dos recursos, ocorreu a votação na Comissão. Presentes vinte e quatro deputados, que votaram favoravelmente. Faltou um, que, naquele momento, estava com Covid, o deputado João Peixoto.

Posteriormente, em reunião presidida pelo deputado Chico Machado, este relatório foi submetido ao plenário. Os sessenta e nove presentes também o aprovaram. Só não votou, porque estava doente, o deputado João Peixoto, que, posteriormente, veio a falecer.

Também foram eleitos cinco deputados para fazer parte do Tribunal Especial Misto:  Chico Machado, Waldeck Carneiro, Dani Monteiro, Alexandre Freitas e Carlos Macedo.

O caminho no Tribunal de Justiça

O processo foi remetido ao presidente do Tribunal de Justiça. Lá, novamente, aberto para defesa e contraditório, reuniu-se o Tribunal Especial Misto e foi escolhido o relator, por sorteio: deputado Waldeck Carneiro.

O deputado Waldeck Carneiro produziu extenso relatório de 128 folhas, minudente, sobre todos esses procedimentos, com acesso prévio para que todos pudessem estudá-lo. Hoje, dia 5 de novembro, às 10 horas, foi convocado o Tribunal Especial Misto para decidir se acataria ou não a denúncia – momento decisivo.

Foi dispensada pela defesa e pela acusação, que eu representei, a leitura do relatório do deputado Waldeck Carneiro, até porque seriam cinco horas de leitura, quando todos já o conheciam a fundo. 

Falam a acusação e a defesa

Abriu-se, então, a palavra para a acusação. Em meu nome e em nome da deputada Lucinha, por 15 minutos, sustentei a acusação, baseado nos autos da denúncia, sem sair uma linha desses autos, como cabe. Evidentemente, fiz a acusação de forma veemente em sustentação oral.

Foram, em seguida, concedidos 15 minutos para a defesa, que preferiu dividir seu tempo pelos dois advogados: um por dez minutos, o outro por cinco minutos. Em seguida, o deputado Waldeck Carneiro leu o seu substancial voto como relator. Nesse voto, baseado também na denúncia, consoante os artigos 4º, 9º e 74 da Lei 1079/50, caracterizou que haveria indícios robustos de crime de responsabilidade. Por via de consequência, pediu que a denúncia fosse acatada pelo Tribunal Especial Misto.

Alternaram-se votos entre desembargadores e deputados. Dos dez votantes – três desembargadoras, dois desembargadores, uma deputada estadual e quatro deputados estaduais, todos votaram pela aceitação da denúncia. Claro, cada voto teve algum diferencial em relação a alguns pontos, mas a denúncia todos acataram, tanto é que isso estará escrito no acórdão.

Em todas as instâncias, a denúncia foi aprovada por unanimidade 

Chamo atenção para esse fato, porque essa denúncia a que procedemos, em todas as instâncias por que passou, foi aprovada por unanimidade. A denúncia de crime de responsabilidade é tipicamente ligada à Lei 1079/50. Não tem a ver com lei penal nem tampouco com lei de improbidade. Ela é ímpar, só serve, em âmbito do Estado, para governador e secretários de Estado.

Ficou claro que, nesse pedido de impeachment, estavam contidos todos os elementos necessários para aceitação da denúncia. O crime de responsabilidade é julgamento político-administrativo, mas com viés jurídico, porque se reporta à Lei 1.079 de 1950. E, claro, que também se submete à Constituição Federal e à Constituição Estadual.

Chamo atenção para este fato, porque muitas vezes ouvi dizer: “Ah, esse é um tribunal político”, “Esse voto é político”. Mas agora, foram 50% de políticos e 50% de magistrados. E ninguém divergiu. Foi harmonia total. Ninguém apresentou voto divergente em relação ao voto do relator. É claro: um dá mais ênfase a um fato, outro dá a outro. Mas o mérito da denúncia em si foi incontestável.

Fiquei neste expediente final, para dizer que a Assembleia Legislativa atuou, sob a liderança e a presidência do deputado André Ceciliano, com toda a integridade, garantindo o contraditório e o direito de defesa. As decisões aqui tomadas ficaram bastante claras e positivadas com essa decisão de hoje.

 

Não há alegria em acusar; mas há muita tristeza com a corrupção levar a mortes 

Ninguém fica feliz quando acusa outro. Mas também fico muito infeliz por ter assistido, em plena pandemia de Covid-19, à morte de milhares de pessoas, enquanto essa plutocracia corrupta, que se estruturou entre setores empresariais e agentes públicos, agia para dilapidar o erário em plena pandemia, sabendo que as pessoas morriam por falta de leito, sofriam, porque não podiam ser atendidas. Aliás, muitas morreram em casa, sem sequer terem a oportunidade à época de ter uma consulta médica. 

Para concluir, digo que, para nós, que sustentamos a acusação, não importa se o dono da Unir, é Mário de tal ou Luiz da Silva. O que importa é que o governador se tornou improbo ao requalificar a Unir. Esse esquema das organizações sociais da saúde não é de uma pessoa nem de duas. É um conluio de alguns nomes sempre constantes e outros que entram e saem.

Por isso, reafirmo aqui uma questão fundamental: no Estado do Rio de Janeiro, o que temos que combater é essa plutocracia corrupta, a aliança sórdida entre alguns agentes públicos e uma elite econômica privada, que se unem para espoliar a população fluminense e dilapidar o erário. Mas pagarão por isso.

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