por Luiz Paulo
Farei aqui hoje, nesta Tribuna, comentários sobre temas que me mobilizaram e aos brasileiros no último final de semana.
Primeiramente, foi final de semana profundamente atípico, com muita festa, alegria na celebração da vitória do Flamengo na Libertadores das Américas. Evidentemente, falo com o coração e a paixão de flamenguista. Foi uma festa para a cidade, para o Estado e para o Brasil. Nesse ambiente de alegria, houve grande comemoração na Avenida Presidente Vargas. Aliás, justa comemoração.
O anseio e a expressão popular ali se expressaram, homenageando os jogadores vitoriosos do Clube de Regatas do Flamengo. Porém, mais uma vez, as autoridades de segurança não foram capazes de entender esse momento de expressão de legítima alegria. A finalização do evento foi com pancadaria, revólveres, pistola nas mãos, com mais de duas dezenas de pessoas, se ferindo, se acidentando.
Mas pasmem: o mais grave é que em cima do carro de som, onde estavam os jogadores, estava, nada mais, nada menos, que o governador do Estado, responsável pela política de segurança, pegando carona na vitória alheia. Vexame público. Sob o olhar do governador, aconteceram esses fatos de extrema agressividade. E ainda temos uma autoridade policial afirmando que isso foi provocado por algumas pessoas que estavam alcoolizadas. Em que mundo vive essa autoridade? Como, em uma grande comemoração, as pessoas vão para as ruas sem beber? O que é necessário é que as forças de segurança estejam preparadas para isso. Cerveja no Brasil; pisco no Peru; vodka na Rússia; whisky na Inglaterra; tequila no México; vinho na França. Qual a novidade que se apresentou na comemoração de domingo? Mas há formas de se superar a violência e, com organização, evitar esses fatos. Afinal, este é o papel das forças de segurança.
Mas, como sempre nestes tempos, há mais uma crise a caminho: lá vem a citação do AI 5, declaração absolutamente fora de sentido, fato protagonizado pelo ministro da Economia. Como se já não fosse suficiente o caos em que vive o estado e nosso país, com rompimentos partidários, coletas de assinatura, enfim, uma balbúrdia que os próprios dirigentes do país e do estado vão criando, com confrontos internos de governador contra presidente e vice-versa. O campeonato do Flamengo serviu, inclusive, para ser canal para extravasar uma energia que poderia, e pode ainda, transformar-se em protestos radicais, visto o aumento da violência e da pobreza.
Quem é político não perde o direito de ser torcedor. Você é político eventualmente e não como regra de vida. Acredito que ninguém que torça para um clube – a não ser as crianças que estão em formação – vá mudar de clube no meio do caminho. O presidente da república pode e deve prestar homenagem aos jogadores, recebê-los em Palácio, o governador de Estado também, o que fortalecerá o futebol como um processo cultural do nosso país. Mas tudo tem limite.
Os limites foram ultrapassados pelo governador do Rio ao viajar no mesmo avião dos jogadores, quando subiu no carro de som e quando se ajoelhou aos pés do Gabigol. Ao ver a cena, fiquei perplexo e, ao mesmo tempo, envergonhado. Senti-me profundamente constrangido, de tal forma que, se procurar em minha rede, no meu Twitter, sequer fiz um mínimo comentário, porque as imagens por si só geraram uma crítica duríssima; as imagens por si só falavam que, para você aparecer, você não pode tudo.
Mas ainda não terminaram os espantos. Num determinado momento, no domingo à noite, diante da TV e aguardando mais notícias sobre o campeão, me surpreendi, talvez por uns dois minutos, com uma propaganda institucional sobre os êxitos da saúde. Pensei: isso deve ser propaganda do Dória, isso deve ser em São Paulo. Ao fechar a propaganda, qual não foi a minha surpresa: era do governo do Estado do Rio de Janeiro. Inacreditável! Aquilo custa uma fortuna! Alguns podem dizer: “Ah, mas tem legalidade”. Não acho que tenha. Mas não tem oportunidade! Estamos em meio a uma calamidade. Além do mais, aquilo não é verdade. Recebemos demanda todos os dias de pessoas desesperadas por uma cirurgia, por um atendimento.
Naquele horário nobre, com uma audiência daquele tamanho, gastar uma fortuna e patrocinar um blefe fecharam a noite de domingo de forma constrangedora.