Dia 16 de março de 2021, terça, entrou em pauta o PL 3535/2021, de autoria do deputado Luiz Paulo e que dispõe sobre a criação do Museu da Arquitetura Urbana do Catete, que engloba o percurso dos bairros da Glória, Catete e Flamengo. Ainda haverá audiência pública sobre ele, mas foi consenso que a ideia era excelente. Segue abaixo a fala de Luiz Paulo, no momento da discussão em plenário, com trechos da justificativa que o fundamenta:
Projeto de Lei da Arquitetura e do Museu a Céu Aberto
“Quero discutir o projeto de lei que intitulo “Projeto de Lei da Arquitetura e do Museu a Céu Aberto”. Este é conceito aplicado em muitas capitais europeias. E esse projeto nasceu, de forma coletiva, função do nosso recesso, de pesquisa de campo feita pelo historiador Douglas Libório, funcionário da Alerj, e pelo museólogo André Angulo, profundo conhecedor de museologia e das culturas dos bairros, inserido também no contexto do Museu da República.
Inclui ampla participação e pretende gerar outros circuitos
O projeto é muito maior do que o Fundo da Cultura. E é de ampla participação. Na audiência pública que será realizada, presidida pelo deputado Eliomar Coelho, presidente da Comissão de Cultura, ficará claro que o projeto já a contempla. Envolve a Secretaria de Cultura do Estado, a Secretaria de Cultura do Município da Capital, Departamento Cultural da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, o Museu da República, as associações de moradores do Catete, do Flamengo e da Glória e todos os demais entes que quiserem participar. A nossa ideia é não ficar única e exclusivamente restrito ao Catete, Flamengo e Glória, que é circuito de grande valor histórico. Mas fazer outro circuito na Urca, porque a fundação da cidade se deu lá, aos pés do Morro Cara de Cão. Um outro circuito no berço do nascimento da cidade, que é o centro do Rio, onde as damas do Morro do Castelo – ou seja, traduzindo a linguagem técnica, damas é o que resta do que foi construído – estão a 150 metros da Assembleia Legislativa. E, finalmente, outro circuito em São Cristóvão, também berço da história da nossa cidade.
Sem passado, não vivemos bem o presente e não temos futuro
Quem não conhece e não gosta do seu passado não vive bem o presente e não tem perspectiva para o futuro. Queremos resgatar nossa história, que tem muito que se ver, muito que se apreciar, muito que se aprender. Quer seja pelos circuitos que visualmente vamos percorrer, quer seja muitas vezes entrando em determinados sítios históricos. São projetos de lei que demandam grande pesquisa, para antes você monitorar e definir todo esse circuito.
Considero que é projeto de grande importância e que seria fundamental que proliferasse pelo menos nesses bairros históricos. Possivelmente, pode se estender a Botafogo, Lagoa, Jardim Botânico. A Bangu, que tem história; a Santa Cruz, que também tem histórico muito importante. A diversos pontos da nossa cidade. O importante é definir bem esse primeiro conceito.”
Seguem aqui alguns pontos da justificativa que nos parecem importantes:
“… Em seu parecer no processo de tombamento da região do entorno do Catete, nos anos de 1960, o arquiteto Lúcio Costa reconheceu a importância arquitetônica e histórica do espaço, assinalando que aquele conjunto seria um verdadeiro Museu de Arquitetura a céu aberto, tendo em vista a diversidade de estilos ali presentes. No ano de 2019, foi criado o roteiro turístico intitulado “Museu Urbano do Catete”, projeto colaborativo e em permanente movimento entre o Museu da República e a comunidade do Catete – mais destacadamente, o movimento “Preserva Catete” -, dentre moradores, frequentadores e pesquisadores desse vasto conjunto arquitetônico.
A proposta de criação do Museu de Arquitetura Urbana tem como foco expandir os pontos de visitação da cidade, tanto como promover um inventário de memórias do patrimônio carioca, tendo em vista a proximidade do 27º Congresso Mundial de Arquitetura, a ser realizado na cidade do Rio de Janeiro. Deve-se considerar, do ponto de vista arquitetônico, a singularidade da formação urbana do Rio de Janeiro, que o dota de representar os diversos estágios arquitetônicos da história brasileira, do século XVI ao XXI.
A criação de um Museu a céu aberto, além de valorizar o panorama arquitetônico da faixa entre a Glória e o Flamengo – pautado pelo parecer de Lucio Costa – visa fomentar a democratização de um conteúdo histórico carioca que se parece tão inacessível, mas tão presente no cotidiano da cidade. A cultura pode e deve ser encontrada nas ruas e o Museu tem uma função essencial nesse elo: pedagógica, ao dotar o indivíduo de conhecimento para com seu entorno de criação; e terapêutica, ao ensejar o afeto, o respeito e a defesa do patrimônio que o circunda. Essa ênfase se dá, tendo em vista os recentes históricos negativos de destruição do patrimônio na capital fluminense, como o incêndio do Museu Nacional e o abandono de prédios e monumentos na cidade.”
“… Por fim, a riqueza desta proposta também visa fortalecer a atividade turística na cidade, através de uma maior acessibilidade dos visitantes aos percursos e a contatos com os guias de turismo.”
“… Finalmente, o mote principal da criação do Museu é ensejar e divulgar pontos de interesse para a necessidade de restauro de grande parte do patrimônio carioca que se encontra abandonado e às vias de demolição.”