O governo Bolsonaro a cada dia lança um tema para pautar a mídia e pautar todos nós. Ontem, o ministro da saúde veio a público, numa preleção, insinuar a desnecessidade do uso da máscara. É como se o ministro estivesse dizendo: o inteligente sou eu, os senhores que estão com máscara – como eu, que uso duas – são todos imbecis. Talvez a recíproca seja verdadeira. Fazemos aquilo que a ciência manda: usar máscara, porque o grande veículo de transmissão da Covid-19 são os aerossóis, isto é, aquilo que expelimos do nariz e da boca e de forma invisível se propaga pelo ar. A segunda medida é não aglomerar e o distanciamento. A terceira é procurar ambientes arejados. Aqui não é arejado, mas pelo menos tem pé direito bastante auspicioso. O ar-condicionado, seguramente, faz essa renovação de ar.
O hábito do presidente Bolsonaro de pautar a mídia
Ontem, o presidente do Supremo se reuniu com o presidente do Senado e com o novo chefe da Casa Civil, senador Ciro Nogueira, para estabelecer respeito entre as instituições republicanas. E o presidente da república, em uma andança pelo norte do país, voltou a dizer que quer cassar dois ministros do Supremo Tribunal Federal, quando ele, só na Câmara, tem mais de cem pedidos de cassação. Vamos ver, quando sairmos daqui, qual será a nova provocação que fez para pautar a mídia. Esse movimento é articulado, não é feito aleatoriamente, porque, enquanto pauta a mídia, pauta os políticos, fica o do antagonismo: Lula x Bolsonaro, Bolsonaro x Lula. E, evidentemente, quando se polariza, se tira do jogo político eleitoral futuros candidatos à presidência da república ou tenta tirar aqueles que já o são, como o caso do candidato Ciro Gomes, do PDT.
Os brasileiros são maiores que a falsa polarização
Então, está tudo muito articulado. Não é aleatório. Precisamos prestar atenção nisso, porque o povo brasileiro, sem exceção, é maior que dois polos. E, é claro, se perguntar a parcela majoritária da população brasileira, acredito que mais de 70% da população votante do nosso país, se quiserem votar contra o estado democrático de direito, votar contra as instituições republicanas, votar contra a República, esses mais de 70% da população, que acredito chegue até a 80%, vão dizer que não. Querem votar a favor da democracia, a favor do estado democrático de direito, a favor da República. Não tenho dúvida nenhuma. Esses 20% que ainda descortinam em Bolsonaro uma saída podem aumentar, porque, se vemos a distribuição do voto por faixa de renda, na faixa de três a cinco salários-mínimos, o presidente está bem situado. Com as benesses que quer agora fazer, pretende conquistar as camadas de um a três salários-mínimos, e ainda há muito tempo pela frente. Portanto, temos que ficar atentos e tentar jogar o jogo da sociedade e não o jogo que interessa ao presidente.
Questão fundamental: preservar o estado democrático de direito
Como dizia Leonel de Moura Brizola: “Nós, que viemos de longe, já assistimos ao que é um golpe, uma ditadura militar.” Não queremos mais isso para o Brasil, de forma alguma. A questão central hoje é preservar o estado democrático de direito. Para isso, precisaremos fazer escolhas que signifiquem o voto contra aquele que abomina o estado democrático de direito, aquele que alicerça o preconceito no nosso país, em todos os matizes. É aquele que dá primazia ao machismo; que defende o misógino; que inibe o presidente de Portugal, contando piadas sexuais de mau gosto; que pega uma criança no colo, tira a máscara e a beija; que se aglomera sem máscara para dizer que está desafiando a ciência; que, recentemente, chegou a falar o absurdo de dizer que quem estava tomando Coronavac estava morrendo, quando é exatamente ao contrário – quem toma vacina, seja ela qual for, está sobrevivendo, apesar da vacina não ser uma prevenção que não falhe.
Chegará o tempo em que até o centrão abandonará Bolsonaro
É o presidente da república que defende todas essas questões e que precisamos estar unidos para derrotá-lo, quer seja na opinião pública, sem usar fake news, e, talvez, no ano que vem nas urnas. Temos o Congresso Nacional, principalmente, a Câmara Federal, dominada pelo centrão, que não pautará o impeachment do presidente. O centrão só larga o osso, quando o osso não tiver mais nem um fio de caldo no tutano. Bolsonaro ainda tem gordura – gorduras orçamentárias, gorduras de cargos comissionados, as mesmas gorduras que são usadas aqui no governo Cláudio Castro, que fatiou todo o seu secretariado e ainda criou secretarias. Enquanto tiver essas gorduras, os centrões da vida sugam. Quando acabarem, abandonam o osso de lado, mas esse tempo ainda não chegou, mas há de chegar.