por Luiz Paulo
Se quiser ter um termômetro sobre o funcionamento ou não do governo municipal, fale com taxistas. A partir de uma dessas conversas, cheguei a recordar as últimas duas décadas da cidade do Rio de Janeiro. Acompanho a gestão de nossa cidade desde que era Estado da Guanabara. Mas quero só ficar na prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, depois do início do processo eleitoral direto, ou seja, a partir de Saturnino Braga, que admiro e respeito, grande economista do BNDES. Mas que fez péssima gestão, devido à questão econômica. Vivíamos com inflação galopante e ele indexou os salários, para os funcionários não terem perdas, por sugestão do então secretário de administração, mas esqueceu-se de indexar as receitas. A inflação era de 30% ao mês e, com isso, a prefeitura faliu.
De lá para cá, no trabalho de soerguer a cidade, tivemos diversos prefeitos de diversos matizes ideológicos – sobre os quais podemos ter críticas ou não -, mas que promoveram intervenções importantes, sob o ponto de vista do desenvolvimento econômico e social da cidade.
Lembro, inicialmente, de Marcello Alencar, de 1989 a 1992, gestão ainda do PDT; depois, César Maia. Deixaram marcas importantes na transformação da cidade: Marcello Alencar, com a urbanização da Zona Oeste e Projeto Rio-Orla; César Maia, sucedido por Luiz Paulo Conde, com o Rio Cidade; depois, novamente, César Maia, sucedido por Eduardo Paes, que, com todas as divergências que tive, principalmente em relação à derrubada da Perimetral, à construção do Túnel Marcello Alencar e do BRT da Av. Brasil, é também um gestor. Mas aí entra o prefeito Crivella.
Reconheço que não há análise possível desses 3 anos de gestão pelo simples fato de não haver gestão. Fico sem ter nada a dizer. A não ser constatar o que salta aos olhos. A cidade está totalmente esburacada. A saúde está despedaçada. A educação se arrasta. As contas públicas se encaminham de forma acelerada para apresentarem déficit no final da gestão. A área social não avançou absolutamente nada, assim como a área habitacional. Ele tentou marcar posição na feira do livro como caçador de história em quadrinho para ver se, com isso, unificaria parte do seu eleitorado conservador, que também se desfez. Como analisar um prefeito que é absolutamente omisso? Esse, infelizmente, é o quadro que estamos atravessando.
Entristeço-me mais ainda, porque, se saio da cidade onde nasci e tento analisar o governo do Estado, a situação ainda é pior do que a da prefeitura do Rio, sob o ponto de vista de contas de gestão. É um horizonte dificílimo. Então, subamos um degrau: analisemos o governo da União. É melhor não fazer, pois está tudo fora do lugar, tudo em curto circuito.
Os nossos gestores, antes de continuarem com os seus mandatos, deviam submeter-se a uma junta psiquiátrica, para que pudesse ser atestado algum indicador de normalidade, porque estamos vivendo os tempos mais difíceis possíveis nos três níveis de gestão: da cidade do Rio de Janeiro, do Estado do Rio de Janeiro e do governo federal.
Nesse clima de derrocada, poucos municípios do nosso Estado – e são noventa e dois municípios – conseguem se salvar. Recebemos um documento dos inativos e pensionistas de Duque de Caxias e São João de Meriti, que estão sem receber seus salários. Quer dizer, a tônica é não pagar salários, começando por aqueles que mais precisam, os inativos e pensionistas.
Ao mesmo tempo, existe na União uma proposta total de desmonte do Estado, que eles denominam de liberal e libertadora. E eu me pergunto: libertadora de quê ou de quem? É em consequência desse clima que estou profundamente preocupado, até porque haverá eleição em 2020, oportunidade para eleger novos prefeitos ou reeleger algum e renovar parte das câmaras de vereadores. Mas me esforço para entender como é possível que o prefeito Crivella seja candidato à reeleição? Mas não entendo. Como um prefeito que, em 3 anos, esteve completamente ausente da gestão da cidade, ainda sonha que pode ser reeleito e como, faltando três anos para as eleições, o presidente da república cogita ser reeleito e o governador cogita ser o sucessor do presidente da república? Não há nenhuma lógica nessas intenções. A não ser a perda completa de razão. Enquanto isso, segue a população fluminense e brasileira pagando a conta. Que é alta!