Comentando sobre as manifestações e depredações na noite desta segunda-feira, o deputado Luiz Paulo abordou a importância das demandas reprimidas e da democracia representativa. Para ele, todos têm direito à manifestação e liberdade não só de expressão como também de opinião.
“A consolidação da democracia brasileira precisa avaliar fortemente a crise de representatividade que o poder político vive neste País, crise seriíssima. E uma parcela significativa da população, principalmente, mas não só, os mais jovens, com grande desapego e com uma grande paixão pelo nosso País, cobram dos Poderes constituídos que tenham ética na política, que não se acumpliciem com as corrupções existentes, cobra dos gestores públicos deste País que sejam mais democráticos, que sejam menos autoritários, que consultem mais os interesses da população e dêem prioridade nos investimentos de educação, de saúde, de mobilidade urbana, que pensem mais no povo e menos nas suas próprias eleições, que, de fato, haja uma distinção clara entre as atribuições do Poder Executivo e do Poder Legislativo.”
Luiz Paulo argumenta ainda que a democracia representativa vive hoje uma crise séria, porque uma parte significativa da sociedade não acredita mais na organização do Estado como ele hoje se apresenta, com os Poderes constituídos, Executivo, Legislativo e Judiciário.
“Função de um grito que está na garganta do povo, função de demandas estruturais que se repetem ano a ano e não são resolvidas. Na mobilidade que incendiou as presentes manifestações, não é só a tarifa alta das barcas, do metrô, do trem e do ônibus, mas também o péssimo serviço prestado em contrapartida. São políticas que o Governo adota de benefício fiscal de IPI, lotando as ruas de carro e provocando congestionamentos imensos, é a acessibilidade do deficiente que não é respeitada no transporte público, são as indústrias das multas sorvendo o dinheiro do contribuinte.”-analisa.
Ele aborda que essas manifestações vão durar ainda bastante.
“Quando aqui já fiz mais de duas dezenas de pronunciamentos, mostrando que é fundamental que cesse a hipertrofia do Poder Executivo, que o Poder Legislativo se liberte das garras do Poder Executivo, para que nos livremos dessa ditadura civil implantada no Brasil, muitos fazem ouvidos moucos e, hoje, a sociedade nas ruas proclama a rejeição à representatividade política.
Quando digo, aqui, que é impossível num País se ter um volume imenso de partidos políticos que não representam nada nem ninguém, não acontece reforma política, partidária e eleitoral. E, neste momento, os ouvidos que estão fechados, os olhos que não querem ver começam a se aperceber que a sociedade, usando a internet e cheia de demandas reprimidas, vai às ruas dar um grito de liberdade, dar um grito de que é necessária a mudança comportamental deste País, que a democracia não são artigos soltos no papel, mas vida, vida que não recebe, em função da carga tributária excessiva que é cobrada, políticas públicas que de fato possam contemplar os interesses populares.
Em que vai se desdobrar essa crise? Quanto tempo durará? Eu imagino que teremos que enfrentar um longo inverno. Parafraseando uma propaganda que existe, se estamos hoje na Copa das Confederações, imagino esses protestos até a Copa, e imagino que é necessário que muitos instrumentos da democracia direta sejam incorporados à democracia representativa, hoje em estado de falência.
Nesse contexto, saudando sempre as manifestações como livre instrumento de expressão popular, desde que pacíficas e desde que pacíficas para aqueles que se manifestam e pelo também poder do Estado, passo analisar o evento de ontem.”
Finalizou sua preleção relembrando a passeata dos 100 mil, em 1968, condenando a ação dos vândalos que picharam a Alerj e os prédios históricos no seu entorno.
“Eu twitava que, ao ver a manifestação na Avenida Rio Branco, presenciá-la pessoalmente, dizia que eu voltava aos idos de 68 e me lembrava da passeata dos 100 mil, da qual participei ativamente.
Naquele momento histórico, tínhamos lideranças efetivas e queríamos liberdades democráticas e a derrubada da ditadura. E fazia essa ilação com o passado porque me pareceu também que ontem, no fundo, no fundo, o que aquela bela passeata pacífica queria também eram as liberdades democráticas e a quebra da ditadura civil, hoje imposta pelos chefes do Executivo.
Lastimo que um grupo sectário, adredemente preparado, alguns até com coquetel molotov, tenham depredado a Alerj, tenha incendiado carros e até mesmo depredado a Igreja São José, no que diz respeito às suas paredes externas, e o Paço Imperial, com toda a sua história aqui da chegada dos portugueses, em 1808.
Esse é o fato lamentável, daqueles mais sectários, que acham que as transformações podem vir de forma incendiária, sem propor alternativas, sem propor qualquer forma de avanço pacífico. Mas eles não macularam o brilho dessas manifestações, até porque, no Brasil, mais de 250 mil pessoas foram às ruas, com grande repercussão internacional, colocando todas as cabeças pensantes deste País em profunda reflexão, até mesmo a mídia, que até pouco tempo negava a importância dessas manifestações.
Por isso, temos que pensar e refletir intensamente, propor medidas urgentes de modificação. Mas uma delas só depende dos próprios Legislativos: entenderem seu papel nessa democracia representativa e se libertarem do jugo do Poder Executivo, para que a sociedade possa voltar a acreditar que esse modelo representativo, que nasceu no berço inglês e francês, possa realmente fazer a sua transição, até ter uma forma direta de se auscultar os desejos do povo nas grandes decisões que têm que ser tomadas.
Por isso, não há que se ter perplexidade, há que se ter observação e reflexão e, ao mesmo tempo, sermos capazes, todos, de ter uma perspectiva de mudança, porque, querendo nós ou não, a sociedade é dinâmica, é evolutiva e a dialética nos ensina que o velho cai e é substituído pelo novo. E, aí, estou falando de novo e velho não de faixa etária, mas de ideias velhas, retrógradas, que têm que ser substituídas no campo das ideias, que sejam mais democráticas, participativas, cuidem melhor do Erário e que os investimentos públicos possam, de fato, beneficiar o conjunto da sociedade brasileira e não apenas setores específicos.”