O deputado Luiz Paulo, em seu discurso final na Alerj, alertou para a falta de competência na gestão dos transportes na regiao Metropolitana do Rio de Janeiro. Veja abaixo o discurso.
” Sr. Presidente, poeta de pé quebrado, acostumado às rimas, me perdoe meu discurso porque seguramente não terá nenhuma rima. No Expediente Inicial, falava eu aqui sobre a desestruturação da política de transportes da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro.
Barcas, bondinho de Santa Tereza, trens com a SuperVia, Metrô e até mesmo os aeroportos recebem nota zero da população do nosso Estado.
E o Prefeito Eduardo Paes, como representante maior do município não levanta a voz sequer para fazer uma análise crítica dos dramas que acontecem na cidade. Ao contrário, confunde ser parceiro com ser submisso, porque vimos o desastre do bonde de Santa Tereza, o aumento escorchante que tiveram as tarifas das barcas, os diversos acidentes com os trens da SuperVia; o Metrô, em que o público anda igual a sardinha em lata; a audiência da Linha 4 do metrô, em que 27 comunidades são contrárias ao traçado atual. E com tudo isso a prefeitura não manda lá um representante.
Talvez o prefeito do Rio pense que esses eventos estão acontecendo, Sr. Deputado dublê de poeta, em Júpiter e Vênus, dois planetas que hoje estão em conjunção no céu a 8º da Constelação de Touro. Só se o prefeito considera que tais acidentes aconteceram no astral, porque tem sido incapaz de se pronunciar e de agir sobre os mesmos! Ele tem a petulância de dizer que vai demolir, por valor estético, uma obra que fez parte do anel rodoviário do antigo Estado da Guanabara, e que posteriormente se integrou ao Plano Viário Nacional, como é o caso da Avenida Perimetral.
Nesse sentido, o ex-Secretário de Obras do antigo Estado da Guanabara e do Rio de Janeiro, Emílio Ibrahim, do alto dos seus mais de 70 anos de idade, escreveu um artigo anteontem, publicado no jornal O Globo, sob o título Demolir a perimetral, em que ele mostra o absurdo dessa intenção e que ela não há de prosperar. Por isso, peço autorização a V.Exa., Sr. Presidente, para fazer publicar nos Anais da Casa o presente artigo, publicado no jornal O Globo.
(…)
Essa será uma luta de maratona, uma luta de fôlego entre os pseudo-interesses estéticos contra desperdício do Erário.
Se o Prefeito tivesse tanta preocupação com a estética, não teria permitido que a Companhia do Metropolitano construísse aquele monstrengo metálico, pintado de branco, com luz roxa, que mais parece um peru no pires, na frente da Prefeitura. Mas, como tinha o aval do governo Cabral, o prefeito jamais cogitou qualquer objeção.
Considero hoje, Sr. Presidente, junto com a Educação, com a Saúde, com os Transportes, um dos maiores dramas da Região Metropolitana. Não há uma reunião a que eu vá que as pessoas presentes não reclamem violentamente do sistema de transportes da Região Metropolitana. Se for num bairro popular, na Zona Oeste ou na Baixada Fluminense, a reclamação é a qualidade do transporte de trens. Se for na Pavuna ou na Tijuca, ou até mesmo na Zona Sul, em Copacabana, a reclamação é sobre a qualidade do transporte metroviário. Na Praça XV ou na estátua do nosso querido Araribóia, as reclamações são sobre a qualidade do transporte aquaviário. Mesmo se fôssemos ao Aeroporto Santos Dumont ou ao Aeroporto Internacional do Galeão, veríamos que as reclamações dizem respeito a horas e horas de espera para embarcar e desembarcar malas e sobre o atraso dos voos.
Como se pode ter mobilidade numa Região Metropolitana que contém 78% da população do Estado? Essa mobilidade praticamente inexiste. Que ufanismo é esse sobre Copa do Mundo, Olimpíadas, Rio+20, Encontro de Jovens Católicos numa Cidade que vive praticamente parada e oferece um transporte público de péssima qualidade?
O Secretário de Transportes do Estado, Deputado Federal Júlio Lopes, já deu demonstrações públicas de que não é capaz de gerir a Pasta, mas lá permanece, muitas vezes até aviltado pelo próprio Governador, como no caso do bonde de Santa Teresa, onde foi nomeado um interventor que era subordinado a ele. Tudo isso, para mim, tornar-se-ia profundamente misterioso, não fosse dramático.
É possível que, daqui a alguns dias, estejamos aqui discursando porque aconteceu um acidente com muitas vítimas na SuperVia. Em Buenos Aires, recentemente, aconteceu um desastre de grandes proporções. O estado da nossa ferrovia é extremamente precário e a desculpa do Governo é sempre a mesma: o trem está por vir, o trem para o Metrô está por vir, a barca está por vir.
Já se foram cinco anos do mesmo Governo. Qual é a esperança do povo? Como ele pode imaginar que esses grandes eventos podem beneficiá-lo, se até agora há somente prejuízos e prejuízos? Não temos nem condições de sair da Assembleia Legislativa às 18h e marcar uma reunião política, por exemplo, em Bangu às 20h. Poderemos chegar lá às 21h ou às 21h30. Tudo é possível, pela anarquia, pelo descuido, pela incompetência com que a área dos transportes da Região Metropolitana é gerida.
(…)
Sou um homem que já adquiriu algumas experiências e garanto a V. Exa. que há muitas décadas não via tanta incompetência acumulada na área de transportes.
Muito obrigado, meu poeta predileto.”