Em seu discurso no expediente final no Plenário, o deputado Luiz Paulo criticou a postura de “Príncipe Regente” do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, ao querer derrubar a Perimetral por meras questões estéticas, sem levar em conta o caos que se formará no Centro da cidade.
Veja abaixo a íntegra do Discurso.
” Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, no Expediente Inicial aqui, Sr. Presidente, falei sobre a audiência pública da pseudo Linha 4 do metrô, que o governo do Estado fez realizar submetendo o projeto ao Inea e a Cecla, no Colégio André Maurois, que começou às 19 horas e terminou a 1h30 da manhã, em que eu estive presente. Ali, a unanimidade dos representantes das associações de moradores dos mais diversos bairros, quase todos da Zona Sul, mas também alguns da Zona Oeste, repudiaram o projeto do governo, de fazer passar a Linha 4 por Ipanema e Leblon, sem contemplar o plano diretor da cidade, sem a presença da prefeitura na audiência pública, sem atender os requisitos mínimos e básicos que devem envolver um cotejo de alternativas de traçado de metrô, ao ponto de o representante do Ministério Público ter definido o projeto como um projeto imprestável. Imprestável, um termo muito forte, porque imprestável é que não serve para nada e tem que ser rejeitado na totalidade.
E ali, possivelmente, se estimam investimentos públicos e privados de sete bilhões de recursos.
O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, a quem eu chamo, Deputado Luiz Martins, de “príncipe regente”, num arroubo de quando acorda pela manhã e se olha no espelho e se acha mais belo que todos, ele resolve que a mídia precisa ser sacudida, vem à público e diz que vai demolir a Avenida Perimetral como um todo, como se aqui não houvesse democracia. Ato digno de um príncipe regente que, ao acordar de manhã, tem um lampejo, deseja e faz. Mas, isso implica dizer que ele vai jogar abaixo, se isso se realizar, um patrimônio público que da prefeitura não é, porque não foi ela que edificou, foi a União; e depois, por delegação e com recursos da União foi o Estado; portanto, tudo feito com dinheiro público.
Agora, por questão de beleza, por questões estéticas não servirá mais. Seriam gastos alguns bilhões para derrubar esse elevado e transportá-lo para um lugar ermo os seus restos mortais. E outros bilhões para fazer um mergulhão desde o Aeroporto Santos Dumont até a Rodoviária Novo Rio. Isso soa quase como uma piada.
Eu estou chamando a atenção para o fato porque hoje teve uma notícia no jornal O Globo, que abana essa ideia com frequência, colocando sob a responsabilidade do Presidente desta Casa, Deputado Paulo Melo, afirmações que ele gostaria de demolir o prédio Anexo, depois que tivermos um novo, para devolver a esplanada da Praça XV à sua condição de outrora, só com prédios coloniais.
Liga essa afirmação do Presidente à derrubada do elevado e o Presidente da Casa não se posiciona em relação ao elevado. Na questão do elevado, quem colocou o desejo de demolir foi o “príncipe regente”. O Anexo é uma questão específica do Parlamento Fluminense.
Estou chamando atenção para o problema porque verifiquei que a matéria faz questão de arrolar uma coisa à outra. E eu serei um, dentre tantos outros parlamentares – como é o Deputado Luiz Martins – que irão se rebelar e lutar contra a derrubada do elevado. Isso é jogar o dinheiro público no lixo, isso é desrespeitar a história da cidade; isso é trocar, em nome de uma pseudo beleza, seis por meia dúzia; isso é talvez dar o maior nó histórico no trânsito da já combalida cidade do Rio de Janeiro.
O Elevado da Perimetral já pertenceu ao Anel Rodoviário do antigo Estado da Guanabara. E uma obra que não é da cidade. É da Cidade e da Baixada Fluminense porque permite não somente o acesso para a Baixada, mas também como para Niterói e São Gonçalo.
Quando V.Exa. vai atravessar a Baía da Guanabara, Sr. Presidente, V.Exa. fica em que congestionamento? Naquele em cima do Elevado porque aí está o acesso à Ponte Rio-Niterói e também desce para a Avenida Brasil, de lá serve à Zona Oeste. Depois, com a inserção da Linha Vermelha, vai servir também à Baixada Fluminense.
Quer dizer, não é nem uma questão da Cidade do Rio de Janeiro, é uma questão Metropolitana. Então, o “príncipe regente” não tem nenhum direito de derrubar nada.
Gostaria muito que a cidade em que moro tivesse o traçado urbanístico maravilhoso do Plano Agache, de 1930, ou do Plano Doxiadis de 1964, ou do PUB Rio de 1975, ou do Plano Diretor Decenal de 1992, mas a cidade em que vivo foi construída, historicamente, em função de grandes intervenções. E já assistimos a muitas loucuras nesta cidade.
V.Exa., que é um homem culto, Sr. Presidente, há de lembrar que, à guisa de construir o metrô, se derrubou o Palácio Monroe, aquela obra arquitetônica, na Cinelândia, do maior valor histórico.
O Prefeito Carlos Sampaio, à guisa de arejar o Centro da cidade demoliu o Morro do Castelo e falo dele, porque depois de amanhã é 1º de março, data de fundação da cidade, e a história da Cidade do Rio de Janeiro foi para o lixo dos seus fundamentos com o desmonte do Morro do Castelo.
Onde já se viu que para se resolver problemas de saneamento seja preciso desmontar morro? A história da cidade se deu em cima de três morros: Castelo, Santo Antônio e da Conceição. O Morro do Castelo foi abaixo. Do Santo Antônio restou só o convento. E, pelo menos, o Morro da Conceição ainda está preservado. Mas pode ser que o príncipe regente também não goste daquela paisagem e resolva alterá-la. Estou aqui em defesa do patrimônio histórico e cultural da nossa cidade.
Temos tanta preocupação estética, Deputado Wagner Montes, e no rosto do príncipe regente, na Cidade Nova, onde está o Centro Administrativo São Sebastião, onde ele despacha, tem uma obra arquitetônica horrorosa que intitulo “um peru no pires”, que é um elevado metálico, pintado de branco, que à noite recebe uma coloração roxa, e tem uma passarela saindo dele, também horrorosa, em direção ao Centro São Sebastião. Eu não ouvi o príncipe regente falar uma linha sobre aquela obra esdrúxula, horrorosa, que ali foi construída. Sabem por quê? Porque o foi com o aval do Governado r Sérgio Cabral e o príncipe regente se curva ao primeiro monarca, que é o Governador.
Não podemos entrar nessa balela, nesse arroubo infantil de destruir uma obra que providencia que o trânsito, mal ou bem, circule no Centro da cidade, em troca de alguma coisa que irá custar bilhões aos cofres públicos e não vai dar nenhuma melhoria no fluxo, possivelmente irá fazê-lo irreversível no sentido da mobilidade.
Muito obrigado.”