A organizadora do concurso para o Departamento de Trânsito do Rio de Janeiro (Detran-RJ) foi escolhida através de pregão eletrônico, realizado no dia 14 de março. No entanto, essa forma para definir uma instituição que será responsável por uma seleção que deverá atrair milhares de candidatos vem sendo questionada para muitos especialistas na área. Muitos consideram que o Detran deveria fazer o concurso pela Fundação Ceperj, que é responsável por organizar a maior parte da seleções do estado. Além disso, existe legislação que estabelece que todos concursos deveriam ser prioritamente realizados por esta instituição.
O deputado estadual Luiz Paulo (PSDB) não concorda com a utilização do pregão nesse caso. “Eu tenho muito medo dessas contratações sem qualificação, pelas questões de depois das provas, principalmente, de sigilo, por exemplo. Deveria ter havido uma análise das qualificações, porque para fazer um concurso, é preciso também ter prática. Não é só uma questão de preço”, disse. Ele lembra que a Fundação Ceperj é a principal instituição responsável por realizar seleções do estado. “Eu não sei por que o Detran não vai fazer com a fundação do próprio estado. Nós temos uma escola de serviço público para fazer concurso”, destacou o parlamentar.
O advogado e especialista em concurso público Sérgio Camargo também critica a utilização do pregão eletrônico e afirma que o ideal seria que a autarquia fizesse uma licitação para escolher a organizadora, caso não tivesse interesse em fazer o concurso com a Fundação Ceperj. “Nesse caso, eu, no lugar do órgão, não faria pregão, porque o que ganha é o menor preço e pode-se perder algumas características, como técnica e experiência”, explicou. No entanto, ele frisa que tempo de experiência também não traduz qualidade. “Na prática, vemos que, quanto mais experiente é a banca, mais arrogante ela costuma ser. Além disso, as que possuem mais tempo são as que têm muitas falhas”, contou.
Paulo Estrella, especialista em concurso e diretor pedagógico da Academia do Concurso, considera que, embora o pregão não seja a melhor forma para escolher uma organizadora. “Escolher pelo menor preço é complicado. O pregão, para concurso, é uma forma que dá medo. Eu preferia uma banca maior, mas a Makiyama foi escolhida de forma idônea e justa. Não dá para condenar agora. Vamos esperar e torcer para não ter problemas.” Já o juiz federal e autor especializado em concurso, William Douglas, acredita que não se deve ter preconceito em relação à organizadora. “O pregão eletrônico é uma das formas previstas na lei, houve uma concorrência e uma empresa saiu vencedora. Não devemos ter preconceito dela ser conhecida ou não.”
Alguns especialistas acreditam que com uma taxa de inscrição baixa, de R$10,39, a banca poderá não ter condições de fazer um concurso de alto nível. Para Sérgio Camargo, o baixo valor da taxa trará uma concorrência grande. “A taxa é um problema porque muita gente vai participar do concurso só por fazer e não porque quer realmente ingressar no Detran”, disse Sérgio Camargo. Paulo Estrella também segue a linha de que a taxa pequena é um risco. “Esse valor acaba estimulando as pessoas que não fariam o concurso a se inscreverem. Então, com isso, a relação candidato/vaga deverá até ser maior do que o previsto”, afirmou. Porém, William Douglas vê a taxa por um lado mais positivo. “Fico feliz com esse valor, porque, se tudo der certo no concurso, com essa taxa baixa, é sinal de que as outras organizadoras estão cobrando alto demais na inscrição das seleções”, opinou.
Fonte: Folha Dirigida