Sra. presidente, deputada Tia Ju, senhoras e senhores telespectadores da TV Alerj, senhora intérprete de Libras, que leva a nossa voz aos deficientes auditivos, quero assinalar que estou muito preocupado com os caminhos do parlamento fluminense, entre outras coisas, pela radicalização.
As diferenças de opinião precisam ser respeitadas
Hoje é dia 18 de maio. Estamos exatamente a quatro meses e doze dias para o dia 02 de outubro, quando ocorrerão as eleições gerais no país. O que vi no dia de ontem e no dia de hoje, no plenário da Assembleia Legislativa, foi, no mínimo, para ser elegante, extremamente desagradável. E, para ser um pouco mais duro, absolutamente impróprio.
A exacerbação em plenário é incorreta
Na Assembleia Legislativa, há diversos segmentos partidários, diversas concepções de como se deve governar e até mesmo algumas concepções ideológicas. Na economia, há fiscalistas, desenvolvimentistas, liberais fiscalistas e outros que em nenhum desses rótulos se encaixam. É justo que assim o seja. Cada um tem uma interpretação de como deve proceder o administrador na gestão pública. Há aqueles que se intitulam de direita, outros, de centro, outros, de esquerda, outros, de sociais-democratas e outros títulos.
Ótimo que assim o seja. No debate político-ideológico, o embate desenvolvimentista faz parte do grande debate no parlamento. Mas a exacerbação não é essa. A exacerbação é pelas palavras duras com que um colega não deve tratar o outro. É o clima de virulência, de raiva, de emoção que tem carregado os embates. Dizia hoje que isso é prenúncio, é um mau sinal de que o pior ainda pode estar por vir.
O clima está ficando carregado
Dito isso, sra. presidente, sei que é a presidente interina, é membro da Mesa Diretora, e, nas ausências do presidente e do vice-presidente, aceita essa função, que ora é recompensadora, e ora proporciona momentos difíceis. Mas, no meu entendimento, talvez em reunião de Colégio de Líderes, em reunião um pouco mais fechada, tem que se cobrar dos parlamentares posição aqui em plenário mais coerente com o próprio Regimento Interno, com o Código de Ética, com respeito. Está muito ruim virmos para cá, e não é porque sejamos melhores ou piores do que ninguém; cada um de nós, em determinado momento, pode exacerbar, e, se exacerba, pede desculpa, ou, no momento seguinte, brinca, desanuvia a situação. Mas o clima tem ficado cada vez mais carregado. Isso a quatro meses das eleições, imaginem nos últimos 45 dias como isso irá ficar!
Mediação do presidente da Alerj para conduzir o desarmar dos espíritos
Então, já que a senhora está hoje na presidência, vou fazer um apelo pessoalmente ao deputado André Ceciliano: que ele, como presidente eleito por todos nós, possa conduzir esse processo. Ao mesmo tempo, esse apelo é para cada um de nós, porque, se não desarmarmos os espíritos, não cumprimos a função maior do parlamento. Não cabe essa luta fraticida aqui.
O papel do expediente final é a discussão política
Eu falaria neste assunto na minha palavra pela ordem, mas achei que a presidente tinha razão em propor que fosso no expediente final. Tornou-se hábito neste plenário uma solicitação de Pela Ordem. O deputado não assina o livro para falar nem no expediente inicial nem no final. Quando existe um tema que adora e quer falar, que não está na pauta, ele diz “Pela ordem!” Estamos discutindo a pauta e este não é assunto da pauta… Até isso inventaram aqui, porque o que existe é “questão de ordem” e que diz respeito aos projetos que estão na pauta. “Pela ordem” é uma criação para discursar 15, 20 minutos sobre algo que está acontecendo, como, por exemplo, a invasão da Rússia na Ucrânia, que nunca virá à pauta, porque isso não é tema do parlamento fluminense, mas pode ser tema dos debates a serem feitos no expediente inicial ou final.
Isso tem que ser administrado, porque muitas vezes esses “Pela Ordem” é que geram a grande confusão, o grande embate. Quer contestar o outro, espera até o final da pauta, se inscreve e fala no expediente final.
Embates políticos sim; pessoais não
Eu, particularmente, não gosto de embates pessoais. Mas gosto muito dos embates políticos; os pessoais, não. Prefiro não entrar em nenhum embate, mas se me chamarem, vou. Fazer o quê? Fiz questão, há três anos, quando assumi o mandato, e isso já estava acontecendo, e acontecia com veemência entre dois segmentos ditos de esquerda e o dito de direita.
Mas temos que ter algum cuidado. Temos que preservar a função pela qual fomos eleitos. Podemos usar o púlpito e travar os embates ideológicos, mas de caráter impessoal. Somos 70 deputados. Garanto que os 69 não são meus inimigos. Pode ter um ou outro que seja meu adversário político.
Na eleição parlamentar, os concorrentes são por dentro da legenda
Por curiosidade ou não, veja como é a vida eleitoral. O nosso adversário numa eleição não está no partido adversário: está dentro do nosso partido. Concorremos contra quem? Temos que chegar à frente de quem? Daqueles que são da nossa legenda, não da legenda do adversário. Até isso mostra que devemos ter essa civilidade no trato com o outro.