Luiz Paulo, em fala no expediente final da sessão de quinta passada, aborda o fato de que presidente da república, governador e prefeito do Rio, trazem à pauta, precocemente, suas futuras candidaturas. Lembra que Jair Bolsonaro, eleito com discurso contra a reeleição, só pensa em sua reeleição em 2022; o governador do Rio, Wilson Witzel, outsider da política, que se lançou candidato, agarrado no rabo de cometa da candidatura de Bolsonaro, de forma a viabilizar sua candidatura. E o fez. E, do alto da sua não experiência política, elege-se para governar este estado tão agredido pela corrupção e a incompetência, com uma população traumatizada pelos anos obscuros que se viu obrigada a atravessar, com serviços públicos arruinados, desemprego, violência no limite do suportável e vai por aí.
Candidaturas prematuras
Afirma: “Aliás, é isso que me motiva a estar neste púlpito. Causa-me muita angústia o fato de hoje, no nosso país, estarmos discutindo, prematuramente, nomes de futuros candidatos à presidência da República, de futuros candidatos a prefeito e a governador que deveriam estar no ostracismo, ignorados pela opinião pública.”
O reinado dos factóides
Reafirma: “Há alguns que assumiram o mandato há apenas um ano e não apresentaram, concretamente, ações positivas para o país, nosso estado e até para outras unidades da federação. Nego-me a discutir Jair Bolsonaro; nego-me a discutir Wilson Witzel; nego-me a discutir João Dória; nego-me a discutir Marcelo Crivella. Discutir esses nomes é dar valor político a quem não tem, a quem caracteriza seu mandato pela truculência, pela exuberância verborrágica e por medidas em governos que não condizem com o melhor que pode haver num estado democrático de direito. Caracterizam-se por criarem factoides para serem discutidos, porque, se avaliarmos suas ações concretas em favor da população, verificaremos que não sobra nada. Senão, vejamos. O prefeito Crivella veio a público, nas trágicas enchentes dos primeiros dias de março, dizer que a culpa dos sinistros era da população que estava morando em lugares sujeitos a inundações, perto de talvegues etc. Com isso, originou grande debate e repulsa às suas afirmações. Depois de ser muito discutido, voltou a público e pediu desculpas.
Mas não para aí. O presidente Jair Bolsonaro, parceiro de Marcelo Crivella, afinal dançaram músicas evangélicas num palanque na Praia do Flamengo, toda manhã dá coletiva curta à mídia e fala algo absolutamente inaceitável para o Brasil inteiro ficar discutindo, e assim vai mantendo seu nome na mídia. Ao espremermos o que fez de bem para o Brasil, chegamos a um pibizinho, em 2019, de um ponto vírgula infinitesimal por cento. E olhe lá.
O governador não difere. Ora acusa o presidente, ora diz que é para dar tiro na cabecinha, ora inventa história de horror para que seu nome fique também sendo debatido. Isso sem falar nas bajulações futebolísticas. Não faz diferente o governador de São Paulo, João Doria, que reza na mesma cartilha dos factoides. Por isso, vivemos uma fase tão difícil no Brasil, onde os alicerces do estado democrático de direito estão, no mínimo, abalados.
Ainda hoje, aqui nesta Assembleia, o que vimos, na parte da manhã, na reunião conjunta da Comissão de Segurança Pública com a Comissão de Tributação, que tenho orgulho de presidir, foi um secretário de estado, ao ser ouvido, sofrer de amnésia, uma amnésia profunda. Tive vontade de receitar, para o mesmo, memoriol – remédio para memória – porque, sobre fatos tão relevantes que agridem a Constituição da República, com a possível produção de dossiês de forma clandestina, o secretário passou horas afirmando que não se lembrava de ter dito nada. Amnésia estratégica. Embora desmentido pelo presidente da Alerj, deputado André Ciciliano, que afirma que ele fez a fala, com testemunhas.
Essa perda de memória visou única e exclusivamente à seguinte questão: se ele diz que não disse, estaria chamando o presidente da Casa de mentiroso. Mas o presidente da Casa tem testemunha. Quando diz que não se lembra, evidentemente, está indo para uma posição de querer ficar num limbo, eximindo-se dos fatos.
Democracia sob ataque
Para mim, é absolutamente triste, desgastante, talvez no último quarto da minha vida, ver que a nossa democracia está dando passos para trás numa velocidade muito grande. Exatamente por quê? Porque as questões que estão sendo trazidas para a sociedade e para o parlamento são a arrogância, a prepotência, o ódio, o desrespeito à Constituição, a não preocupação com o avanço das questões sociais, com melhoria de fato do nosso desenvolvimento social. Mas, para nossa tragédia nacional, estadual e municipal, tudo isso está sendo colocado à margem para se ficar única e exclusivamente numa discussão em que o tema central são armas, beligerância, escutas, agressões e toda a sorte de questões que sequer deveriam estar sendo discutidas no parlamento.”
E destaca ainda: “E olha que nós estamos no século 21, e não na época das cruzadas.”