Continua em evidência o escândalo de corrupção na Petrobras. Na quarta-feira (19/11/14), antes do feriado, eu disse na Alerj que algumas áreas mereciam investigações. Citei inicialmente a gestão dos fundos de pensão. No domingo (23/11) o jornal O Globo noticiava exatamente a suspeição que paira sobre a gestão dos fundos de pensão.
As queixas das associações de funcionários são antigas; já vêm, talvez, de uma década. Reclamam que as gestões do fundo de pensão são perniciosas. Tanto é que se alterou a regra, dando liberdade aos gestores de somente poderem investir ao seu talante 2% do montante do fundo. Mas 2% do montante dos fundos, por exemplo numa Previ, é um volume de dinheiro considerável. Um dos exemplos que veio no jornal foi o investimento na Gama Filho, que já estava no vinagre, Grupo Galileo. E lá, se eu não me engano, foram 50 milhões de um determinado fundo de pensão para o ralo, como se 50 milhões de reais desse em pé de árvore.
Denúncias da Refer já foram inúmeras. Todos aqueles que são depositários das suas aposentadorias complementares em fundo de pensão estão arrepiados, porque os gestores não estão lá pela sua competência, mas sim pela sua capacidade – nem todos, mas alguns – de lesarem o próprio fundo para benefício próprio ou de terceiros. E é evidente que os fundos se conectam muitas vezes com outros investimentos. Então, só aí já tem outra ponta imensa de investigação.
A Petrobras parece que só tem dois diretores: o Duque e o Paulo Roberto. Mas não é verdade. Tem uma diretoria que faz locação de sondas para perfuração de poços de prospecção ou para perfuração de poços definitivos, que contrata todos os tipos de equipamentos suplementares, que movimenta bilhões de reais por ano. Tem a Transpetro, que trabalha na locação de petroleiros para fazer o transporte das cargas de derivados de petróleo e do próprio petróleo, que fazem esses contratos em livre negociação. Existe na Petrobras uma diretoria da corporação que trata dos terceirizados. São mais de 350 mil terceirizados na Petrobras. Se se botar a média de salário de quatro mil reais, inclusive os depósitos em fundo de garantia, dá um bilhão e meio de contrato por mês, por ano, são 18 bilhões. Isso também ainda não foi investigado.
Então, é necessário que se fique também atento para essas áreas, porque, se havia um esquema vertical, de cima para baixo, de propina de 3%, ela seria, dentro daquela instituição, ampla, geral e irrestrita.
Então, temos que chamar a atenção para essa questão. Isso para que não se torne a apuração da corrupção um samba de uma nota só. Era uma verdadeira partitura, com muitas notas destoantes, e elas precisam ser investigadas na totalidade.
Eu ouvia o rádio do carro e uma emissora dizia que a 8ª operação da Federal com o Ministério Público Federal começa a ser chamada de “Apocalipse”, tal o nível de pessoas ou entes que possam ser envolvidos. Enquanto isso, o Brasil está paralisado.
E aí, porque eu também não quero ser samba de uma nota só, eu começo a analisar as possíveis nomeações de ministérios que foram vazados pela mídia.
A presidente Dilma fez campanha demonizando certos setores da sociedade, e no primeiro vazamento saem três nomes: a senadora Kátia Abreu, ex-DEM, crítica severa do governo Dilma, atualmente no PMDB, representante dos ruralistas, do agronegócio, para ser ministra da Agricultura. Eu tomei um susto, confesso. Não acreditei, mas parece que é verdade. Uma pessoa que o PT e a Dilma chamavam de reacionária, direitista, representante dos interesses do latifúndio, da direita mais vergonhosa possível, vai ser ministra do governo? A maior liderança do latifúndio, do agronegócio, do capital espoliativo, do desmatamento, segundo o Partido dos Trabalhadores. Esses adjetivos não são meus. Não estou concordando com eles. São adjetivos do Partido dos Trabalhadores, ao longo não só da campanha, mas de alguns anos.
Continuo a ler os jornais e vejo lá o representante do PTB, Armando Monteiro Filho. Quem é Armando Monteiro Filho? É o presidente da Confederação Nacional das Indústrias, do capital produtivo, mas que simboliza a grande luta do povo trabalhador contra esse capital produtivo, segundo o PT. Capital que expropria a mais valia do trabalhador. E o seu mais digno representante será o ministro da Indústria e Comércio.
E não acabou. Vaza o ministro da Fazenda: nada mais nada menos do que o nosso ex-secretário de Fazenda Joaquim Levy, economista com formação nos Estados Unidos, na Universidade de Chicago, adepto daquela plêiade de economistas da linha austríaca da economia que sustentou o modelo neoliberal, que é amigo do Armínio Fraga e que, dizem, até mesmo deu subsídios para a campanha do Senador Aécio Neves. Segundo o PT, um neoliberal da Escola de Chicago para ser o Ministro da Fazenda. Parece até que quem ganhou o governo foi S.Exa. o Deputado Federal Jair Bolsonaro. Eu não consigo entender.
Se Stanislaw Ponte Preta fosse vivo, ele diria que isso é o samba do branco doido. Quem é o presidente? É a Dilma, do PT? Mas, como só serão confirmados na quinta-feira, parece que esses nomes foram colocados inicialmente como bucha para ver a reação interna corporis, eu fico com a pulga atrás da orelha. Mas o mercado respondeu no ato: o dólar caiu e a bolsa de valores subiu.
Eu estou aqui em perplexidade porque, se isso for verdade, a campanha da Dilma foi um puro estelionato político-eleitoral. E tanto isso é verdade que, ontem mesmo, saía um manifesto do seio do Partido dos Trabalhadores crítico a esses três nomes.
Li no jornal uma pérola que achei interessante: é como se fossem os grandes mentores da CIA que fossem dirigir a KGB. Foi outra ilação que foi feita, que não é minha, é de alguém que fez e as lideranças do PSDB repercutiram.
Mas eu digo que isso é absolutamente inaceitável do Partido dos Trabalhadores, dos seus militantes, mas explicável, e não justificável. E como se explica isso? Primeiro, que a Presidente Dilma Rousseff praticou o tempo todo, e confirma agora, um estelionato político-partidário-eleitoral, porque está nomeando, para determinados ministérios, pensamentos que ela, ao longo da campanha, abominou.
Mas qual é a explicação? A explicação começa, mas não termina, no escândalo da Petrobras, onde a corrupção está revelada em duas ou três diretorias, e ainda falta destampar outras três. E isso pode e vai se imiscuir também para a área dos fundos de pensão, para o setor elétrico e, como dizia um bolero muito importante, quiçá, quiçá, quiçá para outras áreas.
Até porque, no dia de ontem, a Polícia Federal desmontou mais um propinoduto da Receita Federal, com sólida base em Niterói e uma perna no Rio de Janeiro, que teria lesado os cofres públicos na ordem de um bilhão de reais, porque, nesse Governo petista, o valor mínimo de corrupção está na casa do bilhão.
Já saiu do milhão, é do bilhão. Então, são essas questões que levaram a Presidente Dilma a querer fazer um pacto com o mercado, com as forças produtivas, para tentar minimizar a sua situação e a sua posição de grande dificuldade, visto que ela mesma presidiu o Conselho de Administração da Petrobras.
Lembro que há alguns anos estava a então diretora de gás da Petrobras, Sra. Foster, para uma preleção, na Alerj, de como não ia mais faltar gás no Estado do Rio de Janeiro, visto que a Petrobras tinha tomado uma decisão que arrebentou o fornecimento de gás no nosso Estado. Ela foi chamada à Alerj para dizer qual era o projeto para que não mais acontecesse. E depois os Deputados tiveram o direito de fazer algumas indagações a ela. Eu me lembro de que pedi para fazer uma intervenção. E dizia para ela: “Sra. Foster, uma empresa de petróleo bem administrada é um excelente negócio e uma empresa de petróleo mal administrada é um bom negócio. E eu estou falando, aqui, exatamente – dizia para ela – da Petrobras, com uma gestão pífia”. Eu nem desconfiava que essa gestão pífia era tão corrupta como está se mostrando, como a polícia federal e o Ministério Público Federal têm mostrado a este País, através das investigações sob a batuta magistral do juiz Moro, que, agora, começam a querer tirar do prumo, mas não vão conseguir, pela força do apoio popular em relação a essas investigações, para que elas cheguem fundo a todos aqueles que se locupletaram do dinheiro público.
Dizer que corrupção sempre existiu, é verdade! Que talvez tenha corrupção poucos anos depois da criação da Petrobras, na década de 50, talvez seja verdade. Mas jamais, em tempo algum, na história da Petrobras a corrupção foi institucionalizada de forma vertical, de forma transversal, para financiar projetos políticos de hegemonia na sociedade brasileira. Hegemonia que, recentemente, a não mais de 15 dias, no documento tirado pela direção nacional do PT, lá afirmavam: “queremos ser hegemônicos na sociedade brasileira”.
Hegemonia quer dizer controlar e para isso precisam eles de montanhas de dinheiro. Não somente para financiar a campanha, mas para muito, muito mais do que isso, para inclusive amordaçar a mídia. Mas a sociedade brasileira não quer que qualquer partido seja hegemônico.
Nós queremos uma sociedade plural, uma sociedade democrática, e uma sociedade que possa ter os seus organismos respeitados, as suas instituições respeitadas. E que trabalhe, de fato, essas instituições para o bem do povo brasileiro.
Deputado Luiz Paulo52