Aconteceu na manhã desta quinta-feira, dia 16, a Audiência Pública sobre a derrubada da Perimetral pela Comissão de Assuntos Municipais e de Desenvolvimento Regional da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), presidida pela deputada Clarissa Garotinho.
O deputado Luiz Paulo, especialista em trânsito, se posicionou contrário à derrubada, principalmente pelo fato de que a explicação estética é pífia, pois, se esse fosse o real argumento, o prefeito da Cidade do Rio de Janeiro não deixaria a Companhia Docas, construir o píer em Y como decretou.
O especialista em economia rodoviária, Marcos Poggi, convidado pela Comissão, fez uma apresentação, onde mostrou que a derrubada da Perimetral trará um grande impacto sobre a mobilidade urbana. Ele explicou que vários fatores não foram considerados, como por exemplo as rampas de subida e descida dos túneis, que são fatores redutores de velocidade.
Em uma situação futura, não se poderá apenas contar com o trafego de passagem, isto é , daquele tráfego que apenas utiliza o local para se deslocar, mas também o tráfego local, com a construção de diversas torres comerciais e residenciais, no projeto Porto Maravilha.
Salientou ainda que a derrubada da Perimetral, com a Av. Binário, trará grandes complicações para os moradores da Baixada Fluminense, que mesmo com BRT e VLT terão suas baldeações ampliadas.
O deputado Luiz Paulo fez questão de frisar que o governo estadual e a prefeitura burlaram a legislação ambiental e não fizeram um estudo de impacto ambiental (EIA/RIMA) da forma que deveria. Fizeram apenas um Estudo de Impacto de Vizinhança,com um raio de impacto menor que o Eia/Rima, que deveria ter considerado os impactos nas Avs. Rodrigues Alves, Presidente Vargas, Francisco Bicalho e Rio Branco, além de não ter havido audiência publica.
“O que estão apresentando é brincadeira”- questiona Luiz Paulo, que ressalta que a Perimetral faz parte da História da Cidade.
“Derrubar o elevado, é derrubar a historia do Rio de Janeiro. Não é por questão estética, porque ao derrubar a Perimetral, sobrarão os armazéns na frente. Para mim o interesse privado está atendendo todas as questões”-encerra Luiz Paulo.
Confira abaixo o discurso do Deputado Luiz Paulo na integra
“Diversos são os motivos que me trazem hoje à tribuna, mas vou me ater, inicialmente, à questão do sistema de transporte metropolitano. Seguramente, o que vou dizer aqui, Parlamentares que me antecederam já tenham se expressado sobre esse aspecto dos transportes, mas quero dar ênfase, porque venho aqui sempre afirmando que vivemos um momento da política brasileira – em especial no Estado do Rio de Janeiro e no município da Capital – em que o interesse privado domina as decisões do serviço público.
Podemos dar dezenas de exemplos, mas vamos ao de hoje estampado em matéria jornalística. O Metrô decidiu vender espaços publicitários em suas estações. Há mais ou menos seis meses, quando morreu o Bispo Emérito do Rio de Janeiro, D. Eugênio de Araújo Salles, propus que a estação do Metrô da Glória passasse a se chamar Estação da Glória / D. Eugênio de Araújo Salles. O Projeto não sai da Comissão de Transportes, está dormindo porque, seguramente, veio orientação para esta Casa do não interesse de votar a questão de uma homenagem relevante como essa. Por que a estação da Glória? Porque a Mitra é praticamente em frente à estação. Hoje, os verdadeiros interesses apareceram.
O Metrô quer vender publicidade nas estações. Imaginem que eles coloquem na estação da Glória, uma publicidade: Glória / Shincariol; na estação do Flamengo, Flamengo / Brahma; na estação de Botafogo, Botafogo / Itaipava. O cidadão vai sair da Brahma, para ir para Shincariol e depois para Itaipava, e vice-versa? É ridícula essa proposta!
Temos agência reguladora e poder concedente. Não tem nenhuma manifestação hoje na mídia contrária a essa hipótese. É a expressão clara do interesse privado dominando aquilo que deveria ser administrado mediante o interesse público.
Se V.Exa., Sr. Presidente, ler o artigo hoje, no jornal O Globo, há de verificar a crítica que o jornal faz em relação ao píer em Y, cuja construção está sendo iniciada pela Companhia Docas, que é um monstrengo, pelo conjunto de embarcações que irão embarreirar a vista da terra para a Baía e da entrada da Baía para o Mosteiro de São Bento. E o Prefeito Eduardo Paes, a quem sempre intitulei de Príncipe Regente, porque jamais discute as suas decisões com a população, está sempre ungido pelo poder de príncipe, em relação aos interesses privados, que a Companhia Docas está defendendo, ele valou as mãos. É o Pôncio Pilatos. Lavou as mãos. Para derrubar a perimetral, ele alega problemas estéticos. Para construir o píer em Y, ele não faz a mesma argumentação. Por que será que para um lado vale a estética e para o outro não vale a estética? Só há uma explicação: interesses privados.
O píer é uma grande obra, que tem interesse de grandes empreiteiras; a derrubada da perimetral também tem interesse de grandes empreiteiras; a construção de um mergulhão em substituição à perimetral tem interesse de grandes empreiteiras, e o conjunto de espigões que serão construídos em São Cristóvão, na Gamboa e no Santo Cristo tem todos os interesses privados nele.
Essa é a lógica desse acordo entre a União, o Estado e o Município. Todos unidos a favor do interesse privado. O Secretário de Transportes do Estado não diz uma linha, não fala absolutamente nada sobre tudo o que está acontecendo de ruim na Região Metropolitana, na área de transportes. Até porque se o interesse é privado, ele concorda com tudo. Então, essa é uma situação caótica.
Na audiência pública de hoje, da Comissão de Assuntos Municipais e de Desenvolvimento Regional, presidida pela Deputada Clarissa Garotinho, quando se discutiu a questão do projeto Porto Maravilha e presidiu uma apresentação do economista também especializado em transportes, Marcos Poggi – uma apresentação de envergadura – nessa oportunidade eu dizia: Eu me envergonho, hoje, da precariedade como os grandes projetos são apresentados. Não tem um estudo de tráfego sério que considere todas as variáveis em relação à derrubada da perimetral, porque não é só derrubar a perimetral. Derruba-se a perimetral, faz-se um mergulhão, isto é, um túnel subterrâneo, em que tem resistência de rampa ao trânsito, tem resistências do confinamento, de redução de pista pelos obstáculos laterais, de obscuridade, de drenagem, etc., etc.
Concomitantemente, no terminal da Central do Brasil, saem, em direção à nossa Baixada Fluminense, aproximadamente, no horário do pico, 500 ônibus por hora. Eu digo 500 ônibus por hora. Com esse projeto não poderão mais sair dali.
Alternativamente, sem nenhum estudo de sinergia de todos os transportes, o Prefeito propõe fazer um BRT na Av. Brasil, BRT que não tem capacidade de receber mais do que 50/60% da demanda que sai aqui do terminal. E o restante faz o quê? Em não satisfeito, o Prefeito, sem fazer um estudo de engenharia de tráfego sinérgico, fala em tirar de circulação um terço da Avenida Rio Branco. Contrário senso, a indústria automobilística emplaca 20 mil veículos por mês. Vinte mil novos veículos por mês! O Governo do Estado incentiva de forma avassaladora a indústria automobilística, como fez recentemente com a Nissan e a Peugeot Citroen. O fluxo de veículos tem crescido no mínimo a 6% ao ano e o Prefeito Pôncio Pilatos pretende tirar de tráfego aquilo que mal ou bem está funcionando, para propor alternativamente gastar – muito – mais em obras.
No dia de ontem, houve um incêndio nas Favelas Bandeira 1 e Bandeira 2, debaixo do viaduto de Maria da Graça, que deixou ao desabrigo mais de 200 famílias e tirou de circulação o metrô e o trem. Não tem dinheiro para construir habitação popular para essas famílias, mas tem para implodir, para jogar na lata do lixo, a Avenida Perimetral. Não é pouco dinheiro, é algo em torno de 1,5 bilhão de reais.
Sr. Presidente, é revoltante o momento político histórico que nós vivemos no Estado do Rio de Janeiro, fruto de uma política nacional de mexicanização, onde só o Poder Executivo decide o que fazer, enquanto o Poder Legislativo, submisso que é ao Poder Executivo, aplaude, ou se queda inerte, ou, ainda, se omite, para ter míseros investimentos em suas bases do Poder Executivo. Esse é o nosso triste momento.
Mas volto a dizer: vamos, das nossas trincheiras de luta, continuar a fazer análise crítica dessas situações, de propor ações civis públicas junto ao Ministério Público, de fazer as representações ao Tribunal de Justiça, de fazer as denúncias devidas, esperando que em determinado momento a população acorde e dê um basta a isso tudo que está acontecendo. Talvez, Deputado Presidente Roberto Henriques, a demolição da av. Perimetral seja o sarcófago do Prefeito Eduardo Paes.
Já vimos isso acontecer recentemente numa outra obra majestosa chamada Cidade da Música, mas ao inverso, até porque, pela dialética, existe a unidade dos contrários. A demolição da av. Perimetral será o sarcófago do pseudofaraó Eduardo Paes.”