Valorizo muito processos eleitorais. Digo e repito que o povo tem sempre razão quando vota. Quem erra não é o povo que o faz e sim os candidatos. Muitas vezes temos derrotas eleitorais, mas que podem se transformar em vitórias políticas. Já aconteceu isso em minha trajetória. Quero cumprimentar muitos parlamentares que, de forma democrática, se submeteram ao crivo das urnas, para fortalecer a nossa república e a nossa democracia. Este é o primeiro registro que faço.
O interior e pequenas cidades mais conservadores e a área urbana mais centro esquerda
Mas gostaria de fazer outro registro: há grande confusão na mídia sobre o conceito de direita, de conservador, de reacionário e de esquerda. Talvez uma visão mais sociológica ajudasse. Passemos ao comentário.
Quem venceu essa eleição? Em todas as eleições de prefeito no Brasil, sem exceção, avaliando os mais de cinco mil municípios brasileiros, vencem, majoritariamente, os conservadores, porque o Brasil sempre foi conservador. Se levarmos em conta linha histórica, até este ano, qual foi sempre o partido que fez o maior número de prefeituras no Brasil? Todos sabem: PMDB. Ou no interior era partido conservador? O mesmo acontece na França, nos Estados Unidos: nas pequenas cidades é onde está o voto conservador. E, nas grandes cidades, é que se localizam os votos que denomino mais de centro-esquerda. Foi assim que o Biden ganhou do Trump e tem sido assim ao longo de muito tempo.
Ninguém deve, portanto, estranhar o resultado dessas eleições. Aconteceu o que sempre acontece.
Vejam aqui o PSOL, que é partido urbano, é partido de grandes cidades, e onde eles exponenciam os seus votos? No Rio de Janeiro e agora também com êxito na cidade de São Paulo.
Se olharmos para os municípios do interior do Rio de Janeiro, o êxito é pequeno, porque é a natureza urbana do partido. Não há, então, porque haver surpresa com os resultados. Basta que se observe os processos eleitorais através dos anos.
O meteoro que cruzou o céu do Brasil há 2 anos e se estilhaçou
Mas, evidentemente, tivemos um meteoro no Brasil, dois anos atrás. Um meteoro que não tinha surgido para nós até então, e que passou pelos céus do país e se chama Bolsonaro. Mas passou com rapidez tão grande que hoje só vemos rastilhos do rabo do meteoro. Basta lembrar que o PSL, partido que elegeu 12 deputados estaduais na Assembleia Estadual, no município da capital, onde estava a força dos seus parlamentares, os mais votados, elegeu apenas um vereador e com 6 mil votos, pouco acima do coeficiente mínimo de 10% do coeficiente eleitoral, que, no Rio de Janeiro, foi de 51mil votos. Então, para ser suplente, tinha que ter mais de 5.100 votos. Conclui-se: o meteoro já passou.
Passado esse meteoro, se enfraquece aquilo que chamo de postura de partido de extrema direita e reacionário. Reacionário não é aquele que é conservador; que quer manter o status quo. Reacionário é aquele que quer trazer de volta governos pretéritos de excepcionalidade, como, por exemplo, o do período ditatorial. É isso que é ser reacionário. Ser conservador é querer manter o status quo; é querer buscar aquilo de mais atrasado que já se viveu em um país como o nosso Brasil. Faço essa análise, porque este tornou-se tema dominante no noticiário, com todos falando sobre ele.
Eleições do Rio e São Paulo
Vamos ter 2 turnos de eleição muito interessantes: um aqui, na cidade do Rio de Janeiro, e outro, na cidade de São Paulo. Aqui, no Rio de Janeiro, vai ser Eduardo Paes contra Crivella. Evidentemente, os partidos que participaram da eleição, na sua imensa maioria, com a qualificação que for, com apoiamento crítico ou não ao Crivella, tendem a fazer o Eduardo Paes vencedor. Já em São Paulo o jogo é mais complexo. Até este momento, quando faço essa análise, não verifiquei como se posicionará o candidato e ex-governador do PSB, Márcio França. Portanto, será disputa muito mais acirrada, polêmica, cheia de contradições, e não como a daqui que aparenta encaminhamento muito já desenhado.