As chuvas de verão, por Luiz Paulo

As chuvas de verão, por Luiz Paulo

As chuvas de verão, por Luiz Paulo

Minhas saudações à sra. presidente, deputada Tia Ju, sras. deputadas e srs. deputados presentes em plenário, senhoras e senhores telespectadores da TV Alerj, nossa intérprete da linguagem de Libras, que leva a nossa voz aos deficientes auditivos. 

O expediente final da nossa 2ª sessão legislativa trata sobre a oportunidade de senhoras e senhores parlamentares cumprirem um preceito das atribuições dos deputados, que é emitir juízo de valor sobre tudo aquilo que acontece, a critério de cada um, em nossa sociedade. 

Nenhuma cidade preparada para as chuvas de verão

Estamos no ponto médio do verão, que começou em 23 de dezembro, quando o sol entrou no signo de Capricórnio e terminará em 21 de março, quando o sol entrar no signo de Áries. Estamos, portanto, no meio da trajetória. Encontraremos temperaturas muito altas, umidade muito grande, e, por via de consequência, as precipitações atmosféricas muito fortes. Isto desde que o mundo é mundo, mas fica muito claro que as mudanças climáticas tão rápidas que estão ocorrendo mexem fortemente nos regimes de chuvas. Chovendo sempre o mesmo volume, mas em áreas muito mais concentradas. E entrando em estiagem fortes em outras áreas, como se a distribuição da chuva não fosse mais equilibrada dentro do mesmo território. Evidentemente, que todas as cidades sem exceção – seja prefeito do PSOL, do PT, do MDB, do PSD, seja de que partido for – não tem uma cidade deste Estado no Rio de Janeiro, que é composto de 92 municípios, que esteja preparada para as chuvas de verão. Nenhuma está. 

A necessidade de um sistema de defesa civil estadual

 

Tenho dito aqui que a primeira coisa que é preciso se fazer é montar, efetivamente, um sistema de defesa civil estadual muito bem estruturado, organizado, com as ramificações em cada um dos 92 municípios para minorar esses efeitos e fazer que, ao longo do tempo, as cidades sejam mais resistentes, isto é, estejam mais preparadas para enfrentar essas tragédias. Até por que continuarão a ocorrer. Quanto melhor for o sistema de defesa civil, quanto mais estiverem preparadas as cidades, evidentemente os efeitos serão menos desastrosos.

 

A cidade é pontiaguda com cadeia de montanhas

Na cidade do Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense há ainda um outro fenômeno, porque somos uma cidade antiga. Esse núcleo em que estamos aqui foi onde chegou Dom João VI, na nossa querida Praça XV, e lá desembarcou. Essa expansão da cidade data de 1808. O Morro do Castelo foi todo devastado. E para quê? Para aterrar a cidade, naquela época, com uma visão errada de que aterrando iria-se combater as febres, impaludismo, etc., e tiraram a memória histórica da nossa cidade. Estamos aqui ladeados pela Baía de Guanabara, todos os rios que nascem nas nossas encostas, porque a característica da cidade do Rio de Janeiro é ser pontiaguda,  longitudinal, dividida ao meio por uma cadeia de montanhas. A zona sul se separa do centro e a ligação concreta é o Túnel Rebouças e o Túnel Santa Bárbara.

 

Todos os rios desaguam na Baía da Guanabara 

 

Com todas essas encostas, todos os rios desaguam na Baía da Guanabara. Desaguam através de quê? De galerias de águas pluviais ou os rios foram colocados dentro de galerias retangulares e desaguam na Baía da Guanabara. As cotas de fundo dessas galerias estão muito baixas, quando a Baía da Guanabara está de maré alta, porque a maré no Estado do Rio de Janeiro varia desde menos 0,60 até mais 0,60; ou seja, varia um metro e vinte. Se a maré está alta, a água que chega na Baía da Guanabara dá refluxo e aí a tragédia é muito maior: encherá tudo. Ainda há pouco falava um deputado: “Ontem encheu o Sambódromo, como é que pode?” Debaixo do Sambódromo passa o Rio Papa Couve que, exatamente, traz todas as águas de Santa Teresa. Por via de consequência, o refluxo se dá.

 

As enchentes

 

E Botafogo? Do lado da São Clemente corre o Rio Banana Podre, se a Baía também sobe, enche. Laranjeiras, Cosme Velho, debaixo dos prédios passa o Rio Carioca que nasce lá na represa da Mãe d’Água, no Cosme Velho. Os antigos eram muito sábios. Quando construíram a cidade, fizeram o canal da Francisco Bicalho e o canal da Presidente Vargas. E o que pensaram? Vamos fazer esses dois canais para lançar as águas na Baía da Guanabara, lá perto da Rodoviária Novo Rio, vamos fazer numa cota muito baixa, por quê? Vem detrito, cai no rio, quando a maré subir ela invade o canal da Francisco Bicalho, invade o canal da Presidente Vargas. E, quando ela descer, leva o lixo todo embora, inteligente para a época. Para agora, quando coincide a chuva com a maré alta, o canal da Francisco Bicalho não escoa, não escoa o da Presidente Vargas, não escoa o Rio Comprido, o Rio Joana, o Rio Trapicheiro e aquela região enche toda.

 

Sistema de Defesa Civil

 

Isso é histórico e aconteceu ontem, vai acontecer amanhã, depois de amanhã. É preciso preparar as cidades para isso, associado a um sistema de defesa civil. Tanto se fazer alarmes, porque hoje pelo menos já temos uma rede de radares mais precisos, então, a gente já pode ter mais algum grau de confiança nas previsões do tempo. Querendo ou não, ao longo do tempo, também já se fez um Centro de Controle na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, foi inaugurado há uns seis anos com câmeras para controlar a cidade toda, a circulação, enfim, tudo aquilo que pode ser engajado no Sistema de Defesa Civil.

 

Para terminar, o nosso Sistema de Defesa Civil estava instalado na Praça da Bandeira, ali pertinho da escola técnica, quase esquina da Rua Ceará. Quando a Praça da Bandeira enchia, a Defesa Civil não podia se mexer. A nossa Defesa Civil, na primeira chuva, ficava ilhada, o que dá uma imobilização total nas ações. Temos que trazer esses temas para que todos possam avançar, porque isso é real e a cada dia vai piorar. 

 

Necessário aprofundar  a discussão

 

Ficou muito claro para mim o que é uma cidade que pode ser mais resistente que a outra. Na televisão ontem, acho que foi no Jornal Nacional, mostraram em alguns prédios que foram construídos na Turquia, na região onde houve o choque das placas tectônicas, um sistema de molas para resistir exatamente aos terremotos. Outros prédios que são muitos antigos foram através das construções tradicionais. Depois passou a imagem de um drone, possivelmente, com o resultado do terremoto. Os prédios antigos se liquefizeram, acabaram, como se tivessem sido bombardeados, e com a nova tecnologia, claro, tiveram problemas, mas, pelo menos, lá ficaram de pé. Aquilo simboliza um pouco o que seria uma cidade mais preparada para trabalhar com um cataclisma que é mais dominante em cada um dos locais, mas acho que é importante o aprofundamento dessa discussão exatamente para buscarmos soluções.

 

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