Inicialmente, quero saudar a delegação artística que esteve aqui conhecendo o plenário da Assembleia, porque produzirão um filme, salvo erro de memória, chamado “Arcanjo Renegado”. Esteve aqui o diretor da série, José Júnior, que marcou presença no Afroreggae, justo e importante movimento cultural das nossas favelas, além de assessores e artistas que serão protagonistas na série. Evidencia-se que vai haver uma passagem no plenário desta Assembleia, até porque foi dito, naquele episódio, uma personagem feminina que aqui esteve será a presidente do parlamento. Acho muito importante que o parlamento possa abrigar diversos filmes que mostrem a realidade do nosso estado, da nossa cidade e da nossa região metropolitana.
Arte é arte
Arte não tem partido político e não vou defini-la – arte é arte, seja produzida por quem for. Quem vai julgar se gosta ou não daquele tipo de arte – neste caso, especificamente, o cinema – é quem vai assistir ao filme ou à série. Da minha parte, fico muito feliz que o parlamento receba movimentos artísticos, ainda mais aqueles que vão expressar a nossa realidade. Assim, deixo minha posição, porque não há que se ter dúvida sobre isso, independentemente do matiz ideológico que qualquer um tenha. Até porque, se somos defensores, e sou, do estado democrático de direito, esta é uma Casa de livre expressão e, também, de livre expressão artística – livre expressão no sentido lato da palavra. Deixo minha satisfação de ter verificado que a Assembleia Legislativa está recebendo essa expressão de cinema, que um dia teremos o prazer de assistir nas telas. Que fique clara essa posição e acho que isso não merece nenhuma discussão.
A luta contra qualquer preconceito, inclusive os nossos
Quando assumi meu mandato pela primeira vez, fui à tribuna do Palácio Tiradentes para dizer que meu mandato tinha alguns objetivos, e que, de um, não abria mão e permaneceria com ele enquanto tivesse mandato: lutar contra qualquer tipo de preconceito. Todos nós, pelo processo cultural, carregamos algum tipo de preconceito, mas o primeiro trabalho que temos que desenvolver é lutar contra nossos próprios preconceitos. E, na medida que travamos essa luta, não podemos admitir que outros também expressem opiniões e práticas preconceituosas – isso vale para qualquer tipo de preconceito, seja de cor, de religião, de padrão social.
Somos todos seres humanos e queremos o progresso coletivo
Costumo dizer que somos todos seres humanos com virtudes e defeitos e, depois que morremos, sobram só os ossos. Ninguém sabe quanto tinha no banco, qual era a cor da pele, se era homem ou mulher, que tipo de vida teve; vira tudo pó. Para que preconceito, se temos vida tão efêmera? O nosso ideário deveria ser, nessa vida efêmera, viver de bem com todos, termos uma missão única do progresso coletivo. E, também, é impossível alguém viver no mundo e se sentir feliz com uma dicotomia social tão grande, sem que isso não espete nossa alma com algum tipo de sentimento de culpa.
Quero reafirmar isso, porque estamos iniciando o século XXI, depois de Cristo. Se formos para antes de Cristo, pelo menos temos seis a oito séculos do desenvolvimento de cultura mais sutil. Podemos ir para seis mil anos na Mesopotâmia e já vamos encontrar políticas culturais, formas de ensino, de agregação, de vivência na sociedade.
Quanto mais preconceito mais ódio
Como, no século XXI, somos ainda dominados por sentimentos menores, tão preconceituosos, achando que, estimulando o preconceito, um político, por exemplo, vai ter mais voto, por agradar um segmento mais falacioso? Ao contrário: cada vez que um político expressa preconceito, vai exalar mais ódio. E, quanto mais na política se exala ódio, mais repulsa a pessoa também traz para si mesma. É muito comum nas eleições, principalmente majoritárias, dizer que os candidatos muito agressivos, não importa se de direita, de esquerda, de centro, em geral, não agradam a média da população, porque o sentimento de ódio acaba emocionando as pessoas que os estão assistindo negativamente.
Política não é ódio
Quero destacar essa questão, porque é muito comum, principalmente ao longo desse mandato, mas não só, verificar que volta e meia tenho que ouvir no plenário contendas que, no fundo, expressam sentimentos de ódio. E a política não é ódio. Posso ter, por exemplo, com o deputado Noel de Carvalho divergências fundamentais em relação a muitas questões, mas não sou inimigo dele nem ele é meu inimigo. No parlamento, trabalhamos convergências e divergências. Mas convergências e divergências de ideias, com respeito mútuo, sem agressividade demasiada e, principalmente, não envolvendo terceiros nos debates que travamos.
Discutir divergências ideológicas, agregando melhorias para a população fluminense
Chamo atenção para esse fato, porque não ia fazer a minha fala sobre esse tema, mas, como novamente veio à baila no final do expediente de hoje, achei que devia pedir a reflexão e, ao mesmo tempo, moderação, para que possamos discutir, sim, as nossas divergências ideológicas, mas aprofundar as nossas discussões em função de projetos que possam agregar melhoria para a nossa população fluminense.
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