Sra. presidente deputada Tia Ju, sras. e srs. deputados que nos assistem de forma presencial ou remota, senhoras e senhores telespectadores, e, também, saudando o nosso intérprete da linguagem de libras, que leva a nossa voz aos deficientes auditivos.
Ontem, já tarde da noite, assisti a centenas de imagens no ápice da tragédia da Região Serrana. É de cortar o coração, parece o fim do mundo em águas – o desespero, a morte, a destruição, absolutamente chocante, porque concentrado numa pequena região. Foi diferente da tragédia de 2011, que ocorreu numa grande região, mais seis municípios, mas mais forte em Teresópolis, Friburgo, Petrópolis, Vale do Cuiabá, Sumidouro, que foram as mais atingidas, entre outras. Acrescento, também, São José do Vale do Rio Preto, que também foi duramente atingido.
R$ 30 milhões da Alerj para ajudar
Ontem, praticamente, focou o centro da cidade de Petrópolis, com origem, em grande parte de tudo, a montante, ou seja, cheia da Rua Teresa. Imagens chocantes, de uma tristeza que só nos suscita, de imediato, a solidariedade, o desejo de ajudar – e a Alerj fez muito bem em aprovar ontem o destaque do seu Fundo de R$ 30 milhões para minorar a gravidade dessa tragédia.
A mobilização da população e de instituições
Quero destacar a solidariedade da população, no sentido de enviar mantimentos, roupas, remédios. Enfim, essa é a parte positiva: a sociedade fluminense querendo ajudar o próximo. As organizações sociais também se mobilizaram, instituições públicas, privadas. Uma das coisas muito positivas da humanidade é esse espírito de solidariedade e de compaixão.
A dívida histórica com a região serrana e outras cidades
Faço este registro e deixarei para me aprofundar um pouco mais à frente, depois desse impacto, sobre o que fazer para que problemas como esse não venham a ocorrer. Há uma dívida histórica não só com os municípios da Região Serrana, mas também com outros municípios e outras áreas da nossa cidade. Mas a Região Serrana, pela sua constituição geológica, é muito fragilizada para ocupações humanas. A falta de emprego e de renda, o estado de miserabilidade, a ausência de política habitacional, a ausência de análise de área de risco com as medidas consequentes para retirar de lá seus moradores e lhes dar habitação. Incluo, ainda, a ausência de um instituto de geotécnica que pudesse, ano a ano, fazer estabilizações das encostas, não só por cortinas atirantadas (explicando: a cortina atirantada é um componente construtivo projetado em parâmetro vertical de taludes e paredes de escavações para conter esforços de empuxos do solo, impedindo o desabamento de encostas), mas também por suas diversas metodologias. Tudo isso nos leva ao quadro que vemos. Desastres naturais continuarão a ocorrer e, no meu entendimento, de forma cada vez mais constante e mais dura.
A repetição das tragédias
Eu registrei ontem que, no meu curto tempo de vida, assisti à tragédia de 88, que se abateu não só sobre a cidade do Rio de Janeiro, mas também sobre a Região Serrana. Fizemos CPI na tragédia de 2011. De 2011 para 1988 são 23 anos. De 2011 para 2022 são apenas 11 anos de tempo de recorrência. Esse evento extremo que aconteceu aqui aconteceu também em Minas Gerais, em São Paulo, na Bahia. Não podemos achar que vai ser diferente daqui para frente; ao contrário, tem de haver organizações e investimentos continuados, das três instâncias de poder, pertinentes e anuais. Isso envolve o sistema da Defesa Civil, controles climáticos etc. Estes têm sido dias profundamente tristes. Estamos com a visão daquilo que não foi feito e que poderia ter minorado essa catástrofe. O que deixará de ser feito não minorará a próxima catástrofe.
Tristeza pela morte de Arnaldo Jabor e da morte de tantas grandes figuras
De outro lado, faço registro da tristeza pela perda do comentarista político e cineasta Arnaldo Jabor, que morreu aos 81 anos. Nesse período da Covid, grandes figuras na faixa entre os 70 e 90 aos passaram a nos deixar com grande intensidade, alguns acometidos de Covid, outros de outras doenças, mas, talvez agravado tudo isso por esse quadro tão destrutivo que vivemos. Porque, concomitantemente à tragédia da Região Serrana, ontem, o registro de mortes pela Ômicron no nosso país passou de mil!
A perda da vida não pode ser banalizada
Não devemos tratar a questão das perdas como algo inevitável. Não tem nada de maior valor na face da terra do que a vida. A perda da vida não pode ser tratada como banalidade – não pode! Se você analisar todos os princípios humanísticos, e diria até muitos princípios religiosos, não tem nada de mais valor do que a vida. Pessoas não podem ser mortas a paulada, não podem ser mortas a tiro, não podem ser linchadas por nenhum tipo de motivo, muito menos por preconceito.
As políticas públicas são para melhorar a qualidade de vida da população
Os governos, federal, estaduais, municipais, os parlamentos, quando analisam as políticas públicas, vão analisar para melhorar a qualidade de vida da população e não para satisfazer os seus egos, ou imaginar que vão deixar pirâmides como deixaram os faraós. O investimento tem que ser visto na ótica de haver investimento social e não uma obra que se materializa. E o que observo muito nessa carência de investimentos de prevenção, é que a maioria deles não dá retorno político, mas esses é que são os fundamentais.