por Luiz Paulo
Gostaria de fazer pequena síntese da crise que vivemos que poderá ter grandes dimensões: o coronavírus se alastra pelo mundo inteiro. Na Itália, os números são impressionantes, com a taxa de mortalidade acima da média mundial, ultrapassando 5%. No Brasil, os casos começam a dar positivo nas mais diversas unidades federativas, evidentemente, acentuando-se o maior número de casos em São Paulo e Rio de Janeiro secundando. Esta é crise que abala a economia mundial, por ter iniciado na China que é, hoje, a grande fornecedora de muitos produtos para o mundo inteiro e, também, a grande importadora de produtos do mundo inteiro, aqui incluído o Brasil.
O fator Trump
Mas há outro aspecto: o presidente Trump nega a epidemia do coronavírus nos Estados Unidos. Explica-se: lá não tem sistema similar ao SUS, porque o projeto de Barack Obama foi derrubado por Trump, e, com a instalação, de fato, da epidemia, seu projeto de reeleição fica duramente ameaçado.
Somente o coronavírus já é suficiente para abalar a economia do mundo, mas, ainda surge a disputa entre Arábia Saudita e Rússia sobre a produção dos barris de petróleo. Houve o impacto da redução do barril, no primeiro dia, de trinta pontos percentuais. Hoje, o mercado respirou um pouco, mas tenho certeza de que vai entrar em ação novamente o Trump. Os Estados Unidos são grande produtor de óleo, a partir do xisto betuminoso. Esse processo produtivo é interessante: produz-se e para-se com facilidade, mas o processo produtivo é caro. Com o barril abaixo, possivelmente, de quarenta e cinco dólares, vão ter que parar a produção. Parando a produção, já com o coronavírus e a questão da saúde, o Trump vai ficar novamente em grandes dificuldades no seu processo de reeleição. Por via de consequência, os Estados Unidos, que têm relação muito próxima com a Arábia Saudita, vão entrar em ação para minorar esse problema. Por isso, é preciso dar tempo ao tempo para avaliar como essa outra crise vai se desenvolver. E novamente lá está Trump no meio dessa questão.
A crise no Brasil
Mas há outra crise, que fica cada vez mais sem saída: a crise institucional do Brasil. A cada dia, o Presidente da República gera uma crise, que é sempre respondida. E, na medida em que se responde, fica mais aguda. E o país está paralisado. Preocupa-me ouvir, de alguns elementos das Forças Armadas, que o Congresso Nacional não está deixando o presidente governar. Isto já ouvi décadas atrás. Se vivemos num sistema presidencialista, faz-se necessário que haja equilíbrio entre os poderes. Se não há equilíbrio é porque falta diálogo: e cabe ao chefe do executivo essa função. Precisamos de projetos para unir o país a favor do nosso povo, para vencer esse PIB ridículo de um ponto percentual – se é que vamos ter esse ponto percentual em 2020.
Portanto, essa crise é seriíssima, e precisa ser enfrentada sob o viés da democracia. Parece-me que é hora de voltarmos a discutir o parlamentarismo, porque as relações estão muito esgarçadas.
Candidaturas em profusão em início de governo
Acontece, também, algo que jamais vi. No primeiro ano de governo, a cada mês há alguém importante na República lançando-se candidato à presidência. Já contei: Bolsonaro é candidato à reeleição, Wilson Witzel, João Dória, alguém em que Lula vai botar a mão – por enquanto é o Haddad –, Ciro Gomes e Rodrigo Maia são candidatos à presidência da república. São muitos candidatos no primeiro ano e início do segundo ano de governo! Estamos ainda no segundo mês de trabalho dos parlamentos brasileiros e cada vez isso faz esgarçar mais todas as contradições. Não se aguarda nem as eleições municipais.
A necessidade de um projeto nacional
Chamo a atenção para esses fatos, porque temos dever de ofício como parlamentares, visto que juramos cumprir a Constituição brasileira, que preserva fundamentalmente o estado democrático de direito e é por isso que precisamos lutar. É a partir da análise de tudo isso precisamos ter projeto nacional, e não um projeto que apregoe que as soluções do país passa por x, y, ou z. Não há como mais, no mundo atual, só uma pessoa, sentada no trono da presidência da república, se considerar capaz de resolver o problema do país. Essa resolução exige esforço coletivo, de muitas cabeças, muitos propósitos, muitas alianças interessadas no desenvolvimento econômico e social do país, e não em projetos político-pessoais. Chamo atenção para este tema, porque o quadro está cada vez mais esgarçado e a economia do mundo está profundamente abalada. Tudo isso é um risco para a democracia.