Inclusive com o exemplo das autoridades
Manifestações populares de grande porte sempre serão motivo de problemas. Onde há 50 mil, 100 mil pessoas juntas em um evento sempre haverá os adeptos da violência, que vão para roubar, furtar ou provocar desordem, mas não é por causa disso que se deve acabar com o futebol, nem com as festividades de virada de ano, ou carnaval e suas manifestações em blocos de rua.
Quem organiza e planeja desfiles de blocos é a prefeitura, que decide áreas que serão fechadas e horário de fechamento para o desfile; portanto, também é responsável por pedir policiamento, inclusive acionando também a Guarda Municipal. Este é o centro da questão. Mesmo assim, eventualmente vai haver roubo, briga, pode até haver correria e tumulto.
Basta pensarmos no que aconteceu recentemente no estádio do Maracanã. Havia agenda prévia do jogo, convocação de policiamento; no entanto, aconteceu tumulto geral, como já aconteceu também no campo do Vasco. Por quê? Porque vivemos também uma cultura de violência.
Não há, portanto, nenhuma questão de comunicação que vá evitar a violência. O que se defende é que, em qualquer desfile de bloco de rua a prefeitura planeje, organize, dê a concessão, feche a rua e ela mesma comunique à Polícia Militar, à Polícia Civil, para que elas fiquem mobilizadas em relação àquele evento. Não é a burocracia do bloco que deve ser acionada para se comunicar com as três instituições.
A festa da virada do ano, uma das mais populares, na orla de Copacabana terá seguramente mais de um milhão de pessoas. Lá estará toda a Guarda Municipal, Polícia Militar, Polícia Civil, ruas fechadas, Metrô vendendo bilhete com antecedência, locais especiais para as linhas de ônibus. Isso acontece todos os anos. O que não impede que, na hora do evento, haja distúrbios, batedores de carteiras, punguistas, ladrões.
Deve ficar claro que não é a formalidade que muda a cultura nefasta da violência. É um processo de conscientização que precisa ocorrer. Lento, mas necessário. Nem por este motivo, deixará de haver partida de futebol, nem carnaval, nem bloco de rua, ou virada do ano.
Nesses períodos difíceis o que precisa haver é planejamento, organização e, cada vez mais, conscientização, porque não podemos achar que tudo se resolve com lei. Há excesso de leis e pouco cumprimento delas.
Houve época em que um parlamentar era avaliado pelo número de projetos de lei que apresentava, o que é um verdadeiro absurdo. Se cada um de nós tiver em mente bater recorde de criação de projetos de lei, e caminha-se para isso, haverá milhares e milhares de leis e poucas efetivamente serão cumpridas. O parlamento pode e deve legislar, mas precisa fiscalizar as ações do Executivo, do Judiciário. Deve, também, dedicar-se a viabilizar demandas populares.
Então, não é só fazer lei, não é só trabalhar na formalidade. Há muito a se fazer, inclusive para mudar comportamentos, que considero essencial. Se as grandes autoridades não dão exemplo, o cidadão cada vez mais relaxa em suas atitudes.
O que resulta dessa violência? Dia sim, outro não, tomba um policial e, evidentemente, tombam pessoas, muitas vezes, que não são criminosas. E essa estatística cada vez aumenta, não decresce. E fica todo mundo achando que vai resolver isso com lei, com lei e com lei.