De dia falta água e de noite falta luz

De dia falta água e de noite falta luz

No ano que o Rio de Janeiro vai receber a Copa do Mundo de Futebol, o verão se apresenta com temperaturas altas que provocam um natural aumento do consumo água e de energia, totalmente previsíveis. É inacreditável que a “NOVA CEDAE” e o dueto formado pela LIGHT/AMPLA não tenham se preparado para tais eventos, ou seja, o verão e a Copa e o aumento da demanda de água e energia.

agua

É relevante lembrar que em termos de abastecimento de água, a grande maioria da nossa Região Metropolitana é dependente do Sistema Guandu, idealizado e construído por Carlos Lacerda, no quadriênio 1962-1965, isto é, há 50 anos, para abastecer o antigo Estado da Guanabara. Posteriormente o sistema pós 1975, com a fusão, foi adaptado para abastecer a Baixada Fluminense.

Passados os ditos 50 anos, as adutoras do sistema e parte da rede de distribuição já estão com suas vidas úteis vencidas. Cumpre lembrar que a “Nova Cedae” tem perdas d’água superior a 30% (trinta por cento) pela falência dos sistemas de adução e distribuição, com constantes vazamentos, entre outros problemas.

Joga-se fora, diariamente, mais de 12m3/seg de água, suficiente para abastecer todo o município de São Gonçalo, que tem mais de um milhão de habitantes e que junto com Itaboraí, com mais de 218 mil habitantes, sofrem com o precário sistema de abastecimento d´água denominado Imunana-Laranjal.

Apesar das perdas alarmantes e acidentes trágicos, como o que ocorreu ano passado com a adutora do Mendanha, nenhum planejamento para substituição, em curto prazo, das velhas adutoras ocorreu.

A “Nova Cedae” teve um orçamento próprio, fruto de sua arrecadação, de mais de R$ 3,5 bilhões em 2013, sem contar com os parcos investimentos em saneamento básico (água e esgoto) que foram feitos com recursos do Estado, da União e de empréstimos. Pergunta-se: o serviço prestado a população é de boa qualidade? A resposta é não, pois retrocedemos, na prática. À década de 1950, quando as marchinhas de carnaval, faziam paródia sobre a falta d’água: “lata d’água na cabeça lá vai Maria”… ou “Rio cidade que a todos seduz, de dia falta água e de noite falta luz”.

A “Nova Cedae” é a única concessionária de serviços públicos no Rio de Janeiro que decide, sem nenhum controle externo, as suas extorsivas tarifas, e também, sequer é fiscalizada por qualquer agência reguladora, como determina a legislação nacional (Decreto do Governador estabeleceu que só em agosto de 2015).

O Governador, por ato Próprio, deu a “Nova Cedae” o título de empresa não dependente do Estado, e a mesma não mais expos a sua execução orçamentária no sistema de informações gerenciais, agindo contra a transparência de gestão exigida pela Constituição Federal e fugindo do processo fiscalizatório.

Sua capacidade de atender as demandas do crescimento da cidade é risível, basta ir a Zona Oeste da Capital ou à Baixada Fluminense para onde o crescimento urbano se expande de forma exponencial e verificar com maior intensidade no verão, mas também, nas três outras estações do ano, o drama da falta d’água.

Em 2013, as obras do PAC-Saneamento Básico (água + esgoto) tinham investimentos previstos de R$955 milhões, e executaram menos 12% (R$112 milhões), o que demonstra a falta de vontade de fazer do governo.

Houve uma publicidade em 2013 que nos aguçava a imaginação com a frase: “Imagina na Copa”. Existia a fantasia que 2014 seria alentador e que a população teria um belo legado, a miragem se dissipou e o que podemos constatar é que iniciamos o ano com falta d’água e de luz e com as tarifas altas por serviços precários prestados.

Não há autocrítica do Governo e da CEDAE e sim desculpas que ofendem a razão e a emoção, tais como: “as temperaturas estão altíssimas, faltou luz que prejudicou o sistema de abastecimento d’água, a adutora furou, está havendo desperdício ou até os R$ 200 milhões que estavam previstos para investir na Zona Oeste em 2013 (por três vezes a citação foi tentada sem êxito), o faremos em 2014 com resultados em 2014 (o prazo da obra é de 540 dias e mesmo que consigam licitar ficará concluída em agosto de 2015),” entre outras desculpas esfarrapadas.

Até quando o Sistema de Abastecimento d’água e de esgoto da Região Metropolitana continuará  sendo administrada com tamanha falta de planejamento, de projetos, e de uma boa e competente gestão de investimentos?

 

Matéria publicada no Jornal Corporativo, 25/01/2014