Sra. presidente, deputada Tia Ju, nesses últimos dias de novembro e até o dia 18 de dezembro, concomitantemente, os temas que vão ser mais relevantes na mídia escrita, falada e televisada, mas também na internet, é a Copa do Mundo e a transição do governo federal de um presidente da república que sai e de outro que tomará posse em 1º de janeiro de 2023.
A PEC da Transição o avanço das mulheres
Essa transição envolve muitos contraditórios, entre eles aquele chamado contraditório da PEC da Transição, ou qualquer outro apelido que se coloque nela, mas é a que propõe que o teto de gastos seja extrapolado em 198 bilhões de reais durante quatro anos, conforme foi proposto pelo senador relator, no dia de ontem, segunda-feira, na Comissão de Orçamento do Senado Federal. Mas existem outras propostas de PEC: do senador Tasso Jereissati, do senador José Serra e uma PEC muito interessante, que é a proposta pela senadora Eliziane, que representa o pensamento das mulheres que trabalham em orçamento público, que já somam mais de duas centenas. Acho o movimento interessantíssimo, porque são mulheres que se dedicam, há anos, ao orçamento público e conhecem o que é responsabilidade fiscal e social.
A verdade está no meio
Quero deixar absolutamente claro que a constituição da república define que o Estado democrático e republicano brasileiro tem que perseguir ser o Estado do bem-estar social. A definição constitucional do que seja o bem-estar social não permite que tenhamos nenhuma dúvida de que responsabilidade fiscal e social são irmãs siamesas, não se separam, para acabar com esse pressuposto de que tudo que existe no Brasil é como se estivesse engessado por opiniões pessoais, que se confundem com as próprias identidades. Isto é, um acha que tem que ter responsabilidade fiscal e outro acha que não tem que ter responsabilidade fiscal; só responsabilidade social. Evidencia-se – como dizia o sábio filósofo Lao-Tsé – que muitas vezes a verdade está no meio.
Quero deixar clara, para ter uma finitude, essa discussão estéril, até porque, ao longo do governo Bolsonaro, o teto de gastos já foi furado, no mínimo, quatro vezes, e não há como haver sociedade equilibrada no seu modo fiscal com desequilíbrio imenso na questão social. Temos que pensar nesse assunto de forma global como dois temas que interagem.
A Copa do Mundo e a bandeira nacional
Volto agora à política com inserção da Copa do Mundo, que está sendo realizada no Qatar. Aproxima-se da última rodada da fase classificatória em que, dos 32 clubes, se classificarão 2; por via de consequência, sobrarão 16 que jogarão entre si, depois sobrarão 8, depois 4, e depois 2, que disputarão o título. Esperamos que o Brasil, que já está classificado com 6 pontos ganhos, faltando uma partida contra Camarões, chegue até o dia 18 de dezembro.
Primeiro, para que a bandeira nacional, com suas queridas cores verde e amarelo, novamente sejam as cores de todos os brasileiros, e não apenas apropriado por determinado segmento. O verde e amarelo da bandeira do Brasil cobre todos os brasileiros que vivem sob esse manto e que, em época de Copa do Mundo, passam a torcer vestidos de verde e amarelo, ou só de verde, ou só de amarelo. Primeiro, há esta questão que acho importante.
Se manifestar é da democracia
Há uma segunda questão que sobre a qual precisamos aprofundar a discussão. É claro que sou defensor intransigente de que a população tem liberdade de se manifestar nas ruas, isto é um princípio básico da democracia.
Protestos trazem prejuízo à população
Eu mesmo já participei de dezenas de protestos nos logradouros públicos, mas tem-se que examinar essa questão muitas vezes com algum cuidado, porque agora fecham-se rodovias estaduais, não é um logradouro público, uma rua qualquer. São rodovias estaduais nas quais não existem outras alternativas. Com isso dando prejuízos econômicos imensos à população.
Recentemente, tivemos um episódio quase trágico: fechamento de uma estrada, onde um cidadão, com seu filho que tinha cirurgia de olhos marcada, para não ficar cego, ficou impedido de ir para o hospital. Claro que houve um final alternativo. Mas é inadmissível que um cidadão qualquer vire autoridade policial e não permita às pessoas transitarem em rodovias que não têm outra alternativa de locomoção.
Clamores golpistas
O que tem a ver isso com Copa do Mundo? Temos outro grupamento de derrotados nas eleições presidenciais que fazem de seus protestos nas portas dos quartéis, que não são locais, no meu entendimento, devidos, porque quartéis e o seu entorno são lugares que precisam de segurança. O Exército não pode estar acuado com clamores golpistas. Mas isso está acontecendo.
A Copa do Mundo não libera do trabalho
Enquanto isso, líderes desses movimentos, inclusive o filho do presidente, deputado federal, foi visto, ontem, na televisão, lá no Qatar, quando a Câmara Federal está funcionando. E nós aqui não estamos no Qatar, estamos na cidade do Rio de Janeiro, na sede da Assembleia Legislativa e no plenário.
Parlamentar é funcionário público
Destaco esta questão, porque não é devido a uma Copa do Mundo que o parlamentar deixa de trabalhar, de cumprir suas obrigações com a população. O parlamentar também é, num contexto mais amplo, funcionário público, com dever de prestar todas as informações e se dedicar ao serviço público, porque é o contribuinte quem paga o seu salário. Não dá para, concomitantemente, ser parlamentar e estar no Qatar, por mais que exista a possibilidade de você trabalhar remotamente. Acho muito difícil alguém trabalhar remotamente em estádio de futebol, a não ser que seja um alienado total das emoções humanas. Uma das coisas que temos que quebrar é essa mistificação em relação a determinados temas.
O verde e amarelo é dos brasileiros
Quero muito, nunca quis tanto, que o Brasil seja campeão do mundo, porque quero ver, na decisão do campeonato mundial, logo depois do apito final, vestidos de verde e amarelo no seio da mesma família, bolsonaristas e lulistas se abraçarem, comemorando. Quero ver muito essa cena, porque no fundo, no fundo todos somos irmãos e brasileiros. Em política, fazemos e temos adversários, mas não é para fazer com ódio e considerar o seu adversário, seu inimigo. Quem faz política considerando o adversário inimigo tenho certeza de que não chegará, com essa posição, a bom termo, e o que estamos verificando é exatamente isso.
A Copa como condutora da pacificação dos brasileiros como esperança
Por isso, insisto nesse tema, porque vejo a participação do Brasil na Copa do Mundo não apenas como um torcedor, mas como uma possibilidade de ser condutor da pacificação interna de parcela significativa do meu país.
Volto a dizer: jamais fui adepto do slogan que diz que no futebol na hora da Copa do Mundo é o Brasil na ponta da chuteira, mas reconheço que o futebol é paixão nacional e, por isso, cada um tem seu clube. Eu, por exemplo, torço pelo Clube de Regatas do Flamengo. A deputada que preside o plenário hoje Tia Ju, torce por quem? “– Lá em casa tenho um impasse: eu tenho um filho flamenguista e o marido corinthiano. Eu fico dando suporte aos dois.” Não importa o clube. Mesmo que fosse possível e a senhora fosse neutra, sob o ponto de vista do jogo da seleção, somos todos verde e amarelo, somos todos Brasil, porque os clubes muitas vezes, um está no ápice e outro nem tanto, mas ninguém perde as suas respectivas paixões.
Unificação
Rancor intenso entre as pessoas que divergem de opinião
Dentro da família, mesmo tendo um torcendo por um clube e outro por outro, no fundo formam uma família e se gostam. O que não pode é haver partidos políticos, opiniões ideológicas diferentes e as pessoas se odiarem, mesmo dentro da mesma família. Isto é um horror.
Não cheguei nem a presenciar isso com tanta intensidade no período do golpe militar de 64. E o golpe militar foi em 1964 e a abertura começou a se dar de forma intensa no final de 1970, mas, principalmente, no início dos anos 80. Foram quase vinte anos. Não vi esse rancor tão intenso como existe hoje, quando estamos na égide da República Federativa do Brasil. Por isso, chamo a atenção de todos.