Minhas saudações à sra. presidente, deputada Tia Ju, sras. e srs. deputados que nos assistem de forma remota e/ou presencial, sras. e srs. telespectadores, que também nos acompanham na TV Alerj.
Confesso que minha enorme preocupação com algumas questões que acontecem no Estado do Rio de Janeiro, mas que, de alguma forma, também ocorrem em todo o país. A deputada Lucinha preside a CPI que foi batizada como CPI dos Trens, que visa apurar as irregularidades existentes, quer seja nos contratos, quer seja na fiscalização, mas, principalmente, na operação do sistema ferroviário, por meio da Supervia.
Vistoria dos membros da CPI do ramal de Santa Cruz e Central/Deodoro
E, no dia de ontem, 25 de abril, vistoriamos – deputada Lucinha, eu, deputado Waldeck Carneiro, deputada Martha Rocha, deputada Enfermeira Rejane, deputado Giovani Ratinho – o ramal de Santa Cruz. Da Central a Deodoro, numa composição que tomamos aleatoriamente no entorno das 9h na Central do Brasil. E, às 10h, numa composição única, que é denominada composição de vistoria da via permanente, fizemos o trecho Deodoro – Santa Cruz.
A deputada Célia Jordão seguramente conhece esse trecho, porque, quando ela era menina, era levada para conhecer Mangaratiba e ia no trem “macaquinho”. Chamava “macaquinho” o trem que ia para Mangaratiba, que hoje não existe mais. Tempos ainda em que o trem não ia até a estação de Santa Cruz; ia até Matadouro, uma estação acima de Santa Cruz.
Deodoro a Santa Cruz: péssimo estado de conservação
Mas a grande preocupação é que, principalmente, mas não só, de Deodoro a Santa Cruz a via permanente está em péssimo estado de conservação, sofrendo fortíssima deterioração, porque as canaletas laterais, a via permanente, não têm qualquer conservação. As galerias estão todas entupidas, muitas nem se consegue mais ver pelo volume de lixo e de capim navalha, que chega a quase dois metros de altura, concentrado nesse trecho lateral. Quando esse sistema de drenagem não funciona, evidentemente, nas grandes chuvas, a via permanente inunda e, em consequência, os trens param, o que ajuda a acontecer toda a sorte de apodrecimento dos próprios dormentes, porque a grande maioria é de madeira.
Devido aos problemas, diminuição da velocidade
Esses dormentes de madeira da via permanente também não têm conservação rotineira; têm conservação emergencial, de trocar um outro que fica em frangalhos, porque a madeira acaba. Quanto mais a via permanente é insegura, mais difícil é o alinhamento do trem e até o seu amortecimento ao trafegar. Torna-se necessário, então, a diminuição da velocidade para ter alguma segurança.
Então, praticamente o trem está percorrendo os diversos segmentos de estações com velocidades abaixo de 40km/hora, porque, se estiver acima disso, o chacoalhar do trem e os deslocamentos laterais passam a ser muito fortes, podendo até provocar um acidente. Há áreas, Deputada Célia Jordão, em que o capim está tão próximo da via, que o trem vai batendo no capim lateralmente.
Sinalização por cabo deficiente
Além disso, a sinalização por cabo, via energia, está deficiente; dizem eles que é em função de roubo dos cabos. Então, a sinalização, quando tem que abrir ou fechar linha, devido a alguma composição fazendo manutenção, se dá por telefone celular com a central de comando, a central operacional, aqui na Central do Brasil.
Cada vez maior é o prejuízo
Isso tudo faz com que, com a diminuição de velocidade e a tarifa alta, sujeita a reajustamento, haja perda de passageiros; e, em consequência, maior é o prejuízo.
Insegurança da via permanente
Tendo a comissão passado por lá no dia de ontem, hoje mesmo, de manhã, diversas pessoas demandaram e-mails para muitos deputados – para mim também -, mostrando que o intervalo entre trens estava passando de 40 minutos. Eu mesmo, na volta, para pegar o trem que chamamos “expresso”, que vinha de Japeri, na estação de Deodoro para a Central, esperei 36 minutos de intervalo. O trem que veio tinha muito boa qualidade, com ar refrigerado potente, e estava lotado. Mas, na ligação de um vagão com outro, há ali um conjunto, como se fosse um pequeno túnel, com a ligação sendo feita com um capeamento de borracha. O desenvolvimento do trem na linha, na sua velocidade de percurso, causava um desencontro de níveis imenso, mostrando o quê? A insegurança da via permanente.
Desestrutura do sistema ferroviário leva à desestruturação geral do transporte
E o governo não acordou ainda para o fato de que o financiamento do transporte público é o grande tema a ser debatido no Rio de Janeiro e em outras unidades da federação, porque, quando se desestruturar o sistema ferroviário, será desestruturado o sistema em sua totalidade. Sem transporte, não existe desenvolvimento econômico e social. Transporte viabiliza a produção. Sem transporte, as pessoas não podem se deslocar para seus trabalhos; perdem os horários; muitas vezes, têm redução de salário e gera insegurança imensa na região metropolitana.
Sistema ferroviário deve fazer parte do Pacto-RJ
Então, não entendi, até agora, como o sistema ferroviário, isto é, o trem para a Zona Oeste, para Santa Cruz, para Japeri e para Gramacho não façam parte do Pacto-RJ, porque aquilo é que é investimento estruturante.
Venda de drogas em Senador Camará, num total de 12 estações
Mas não é só. Tanto na ida quanto na volta, é lugar comum dizer que Senador Camará, na ponta da estação, estavam lá os narcotraficantes vendendo drogas, com seu devido arsenal bélico, dentro da estação. O governador afirmou que ia dar um jeito nisso. No entanto, está lá, tanto na ida quanto na volta. Existe até barraca. Trânsito direto. É como se fosse um ponto, não é só para venda a quem está na estação, mas para quem está fora da estação, que vai lá e compra também. Imagino eu que as drogas ainda não estejam legalizadas no Brasil. Mas o sentimento, ontem, era de que estivessem.
O levantamento que temos é de que existe isso em 12 estações, não só em Senador Camará.
Desleixo com o sistema ferroviário
Isso mostra o desleixo, o abandono, o descuido em relação a algo que é estruturante da Região Metropolitana, que é o nosso sistema ferroviário. São 270 quilômetros de linha.
O lobby do combustível fóssil
Aliás, os sistemas de trem no nosso Brasil vêm perdendo espaço há muitas décadas, em consequência do lobby do combustível fóssil, que hoje é um dos grandes inimigos do meio ambiente.
Estou mais uma vez chamando atenção. A CPI existe para isso e o faz de forma muito vigorosa, intensa, mas é necessária esta reflexão. Não é mais possível que o governo seja só reativo e trate, por exemplo, o transporte como algo menor, secundário. Basta observar o número de secretários que já estiveram na Secretaria de Transportes, e muitos com altíssimo nível de incompetência.
Faço, portanto, uma fala de tristeza, indignação e, ao mesmo tempo, cobrança, para que o governador perceba, definitivamente, a relevância deste tema: o transporte ferroviário de passageiros. Porque o de carga, infelizmente, o governo já abandonou há muito tempo.