Um dos temas tratados hoje na Comissão de Cultura foi exatamente a ação deletéria e absurda do governo Bolsonaro em querer desmontar a cultura brasileira ao incluir o Palácio Capanema na relação dos bens imóveis a serem alienados à iniciativa privada.
Marco da arquitetura moderna brasileira
O Palácio Capanema, quando fomos capital da república, era o nosso MEC, Ministério da Educação e Cultura. O Palácio Capanema, mesmo depois da fusão, quando a capital já estava em Brasília, era subsede do Ministério da Educação e Cultura. Sempre que o ministro da educação vinha ao Rio despachava exatamente do Palácio Capanema, que é um marco da arquitetura moderna brasileira, projeto do professor Lúcio Costa, que também assina o projeto do prédio que hoje ocupamos. Esse projeto, coordenado pelo professor Lúcio Costa, teve a assinatura do então jovem arquiteto Oscar Niemeyer. Já os jardins do Palácio Capanema foram produzidos, nada mais, nada menos, de que por Burle Marx. Por acaso ou não, ambos, arquitetos, urbanistas e paisagistas, participaram diretamente da edificação de Brasília.
Palácio Capanema é símbolo histórico do Rio
O Palácio Capanema é, portanto, símbolo histórico da cidade do Rio de Janeiro, que perpassou o Distrito Federal, a Guanabara e, agora, no Estado do Rio de Janeiro. Está sendo objeto de decisão tresloucada de vendê-lo à iniciativa privada. Queria saber o que se vai fazer com tantas instituições culturais do governo federal lá alocadas. Além do mais, o Palácio Capanema é tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional.
A crise do centro na pandemia
No momento pós-pandemia, o centro do Rio de Janeiro passa por crise inimaginável. A Assembleia Legislativa se muda para o Edifício Lúcio Costa, o Tribunal de Justiça está muito bem instalado na Av. Antônio Carlos, pertinho. Próximo daqui estão aquilo que foi o Ministério da Fazenda; nesta mesma rua, a México, a Secretaria de Saúde; e o Ministério Público Eleitoral. Em uma rua transversal fica também o Ministério Público Federal. O centro da cidade, além das discussões na Câmara para se tornar residencial, é, inegavelmente, como vocação, o centro administrativo da cidade do Rio de Janeiro e o Palácio Capanema é uma das joias da coroa.
Discussão em audiência pública
A Assembleia Legislativa, possivelmente amanhã, travará essa discussão aqui em audiência pública. Acredito até que, se houver um mínimo de bom senso no governo federal, o Palácio Capanema terá que ser retirado dessa lista de venda de ativos, porque é inadmissível passar esse patrimônio histórico para a iniciativa privada, até porque tem muita utilidade como prédio público, quer seja para a união, para o estado ou para o município da capital.
A gestão deve ser do poder público
Junto-me àqueles que lutam para que o Palácio Capanema continue sendo um prédio maravilhoso, um marco arquitetônico tombado e que seja gerido, única e exclusivamente, pelo poder público, que não deve, sob hipótese alguma, abrir mão da gestão do mesmo.
Tempos de paciência, persistência e propósito
Domingo andava pela rua e vi uma moça com camiseta, que tinha apenas três palavras escritas em inglês, mas que aqui traduzo: Paciência, Persistência e Propósito. Palavras simples, mas que trazem diagnóstico que diz muito sobre o tempo que vivemos. E, em especial, sobre o mandato que exercito na Alerj.
Não sou um extremista, porque os extremismos levam ao ódio. E meus adversários políticos não são meus inimigos, procuro trabalhar com as convergências e não com as divergências. Mas insisto, o tempo é de paciência, persistência e propósito. E, neste momento, o propósito é manter viva a cultura brasileira, dizendo não à venda do Palácio Capanema.