Ontem, muitas pessoas devem ter visto, porque rodou na internet, pequeno vídeo do Manuel Castells, filósofo espanhol, sobre os tempos que vivemos. Demonstra, ali, o descrédito que existe, não só no Brasil, no mundo inteiro, em relação à classe política que, em geral, pelo menos aqui, se estrutura nos períodos eleitorais para discutir eleição e não o futuro do estado, do país e da própria humanidade. Aborda, também, o clima de perplexidade que existe na nossa sociedade, diante de tudo o que está acontecendo.
Do diagnóstico do presente para reconstruir o futuro
Faço referência a esse vídeo, porque, exatamente nesses últimos dois anos, de forma mais intensa, o parlamento fluminense iniciou processo um pouco mais amplo para discutir também o futuro. Ao discutir o futuro, precisamos fazê-la a partir do diagnóstico do presente. E o presente nos mostra profunda crise social, de desequilíbrio de renda, de desequilíbrio nas políticas públicas para a saúde, para a educação, desemprego brutal, crise ambiental sem precedentes, em função de políticas públicas devastadoras, além da convivência desastrosa com a pandemia.
Trata-se da próxima geração
Diante disso, como podemos pensar o que será a vida, não vou dizer de tantas futuras gerações não, mas das gerações que nos substituirão em tempo muito curto? Estou falando dos próximos 10, 20 anos, sem ir muito à frente. Como é que encontramos solução, que seja aceita pelo conjunto da sociedade, para o enfrentamento desse período que vivemos? Ao pensarmos em receitas públicas, ao pensarmos em planejamento estratégico, em fundo soberano, na trágica miséria social em que vivemos, e, também, em como mitigar as mesmas, queremos pensar sobre nosso futuro, porque o prognóstico está muito difícil. E, evidentemente, sem o engajamento da sociedade não teremos saída alguma.
Estamos interconectados
Cada vez que abro os jornais, pela manhã, me surpreendo ao verificar que o Congresso Nacional discute temas de que ninguém tem conhecimento nem participa, como se fossem mundos à parte. Isso acontece com o mundo do Executivo, o mundo do Legislativo e, principalmente, o mundo do Judiciário, mas não pertencemos a mundos apartados. Estamos interconectados.
E viva a diversidade de pensamento!
Precisamos ouvir o pensamento diverso de nossa sociedade, por mais contraditória que ela seja. E, cá entre nós, é bom que seja contraditória, porque a contradição é que permite os avanços. Duvido muito de tudo aquilo que tem apoio amplo, geral e irrestrito, que não está sob o jugo do exercício da dúvida. Isso nos ensinou a dialética.
Audiência pública tratará do Fundo Soberano – olhar à frente
Faço esta reflexão, porque organizamos, na parte desta manhã, audiência pública sobre o fundo soberano com um olhar para o futuro. Não há hipótese de fundo soberano que não seja olhando pelo menos dez anos à frente, até porque esse é o prazo do novo Regime de Recuperação Fiscal. Se não temos poupança para fazer investimentos estruturantes, se não temos poupança que possa ser alavancadora, como contrapartida para investimentos estruturantes, não temos muito como pensar em futuro.
A falta que faz um plano estratégico de desenvolvimento
Concluindo, reafirmo que uma das atribuições do nosso parlamento é pensar o futuro a partir de ações agora. Mesmo o sistema de planejamento que passa pelas leis orçamentárias – a primeira delas é o PPA, o Plano Plurianual – é uma previsão para quatro anos, que sempre está vigendo no primeiro ano do governo que entra. Mas precisava estar estruturado em cima de plano estratégico de desenvolvimento. E, infelizmente, nunca está.
Outro dia também me surpreendi com o ministro Paulo Guedes querendo até acabar com o PPA. Como é que posso pensar no futuro do meu país se ele não tem nenhum planejamento estratégico, não tem nada?
É chegada a hora!
Faço esta reflexão, porque considero que temos, aqui no parlamento, grupo grande de parlamentares querendo pensar esse futuro. E o deputado André Ceciliano, como presidente da Casa, lidera esse processo na medida também em que nos aproximou das nossas universidades. Acho que a hora é chegada. Se não for agora, vamos fenecer no mesmo barco.
OBS:
“PS.: Qual o pensamento de Manuel Castells?
Castells centraliza seu estudo na chamada Era da Informação, ou Era Digital, em algumas questões específicas correspondentes à sociedade conectada de forma global: baseia-se em estabelecer conceitos geográficos que podem ser ferramentas de aprofundamento nos estudos dessa rede capaz de conectar o mundo inteiro.
O que é sociedade em rede ou sociedade informacional?
Para Castells, a sociedade informacional é uma sociedade em rede, ou seja, emerge uma nova morfologia social. A organização em rede ganha primazia econômica, social, política e cultural.”