Tenho falado muito sobre eleição no 1º turno, porque é tema, hoje, de maior interesse, já que estamos a dez dias do 2º turno. Verifico que há muitas eleições importantes para se decidirem no nosso país, mas nós temos preferência, evidentemente por sermos da região sudeste, no segundo turno de Vitória, do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Em Vitória, se avizinha 2º turno bastante duro. Aqui no Rio de Janeiro, como falei ontem, tudo indica que haverá vitória fácil do candidato Eduardo Paes. Até um site que vi ontem, chamado “Fora Paes”, resolveu apoiá-lo contra o Crivella, porque passou a ser quase unanimidade nesta cidade que não tolera mais a gestão incompetente e ausente e a postura de radical de direita do Sr. Marcelo Crivella.
Por que ele é radical de direita? Porque se aliou ao presidente Bolsonaro e de forma reacionária prega a volta ao passado, isto é, prega a ruptura da democracia e da república.
Ser republicano e democrata impede ruptura
Há partidos que pregam a ruptura, tanto pela direita quanto pela esquerda. Como sou republicano e democrata, jamais compactuo com quem prega essa ruptura. Mesmo reconhecendo que estamos muito longe muito longe de uma república e de democracia ideais, que possam não ser discriminatórias nem no caráter pessoal nem no caráter institucional, que possam fazer melhor distribuição de renda, que possam oportunizar melhores condições para todos irem à escola, para que haja saúde no sentido universal, por mais que verifique isso, continuo achando que a saída é pela república e pela democracia.
A questão do prefeito Crivella
O Crivella, agora mesmo na televisão, vociferava, atacando, não o adversário dele, atacando o governador de São Paulo, por não tenho simpatia, mas vociferava chamando-o de canalha. Assustei-me, porque faço política há tantos anos e não me lembro, nos momentos mais radicais da minha vida política como parlamentar, chamar alguém de canalha. Mas, como o homem que se diz o representante do Senhor, um pastor, vocifera com ódio chamando um irmão seu de canalha. Então, essas contradições para mim são inadmissíveis.
Mas estou curioso sobre as eleições de São Paulo. Acho que serão eleições muito interessantes.
As eleições do Rio
Aqui, no Rio de Janeiro, na capital, o que hoje se chama de esquerda não ganha eleição desde 1989. Sempre ganharam candidatos de centro. Queria lembrar o Saturnino, que era considerado de esquerda, e ganhou a eleição de 1984 e tomou posse em 1985. Era senador, considerado de esquerda, tendo saído, depois, do PDT e ido para o PSB, Partido Socialista Brasileiro.
Em 1989, ganhou Marcello Alencar pelo PDT, partido trabalhista. Marcello Alencar tinha passado pela ditadura, advogado para presos políticos, mas o trabalhismo tinha divergência de fundo com o petismo que nascia no nosso país e tinha estrutura e disputava eleições aqui na cidade do Rio de Janeiro com o então vereador Jorge Bittar.
A história dos candidatos de centro no Rio
Mas depois dessa eleição de 1989, sucessivamente só ganharam candidatos de centro. Foram César Maia 2 vezes, Conde, César Maia, novamente, Eduardo Paes 2 vezes, e, mais recentemente, Marcelo Crivella. Isso não aconteceu em São Paulo, que assistiu a 3 vitórias da esquerda, com Erundina, Marta Suplicy e Haddad. Lá também tem tradição de alternância de poderes. Então, vai ser eleição muito interessante.
E vamos a São Paulo
Mas considero que o Sr. Guilherme Boulos precisa de alguns ensinamentos sobre gestão. Recebi do nosso deputado Alexandre Freitas, o neoliberal do Novo, vídeo em que o Boulos cita a seguinte pérola: “A questão previdenciária de São Paulo vou resolver da seguinte forma: abro concurso, aumento o volume de contribuição previdenciária e resolvo o rombo previdenciário”.
Para problemas complexos soluções também complexas
Se fosse isso, o Brasil estaria salvo, e todos fariam isso. Quando concurso público é aberto, aumenta-se a contribuição previdenciária, porque vão entrar 14% de alíquota do servidor, mas ele esquece que o estado entra com 28 – o patronal é o dobro do individual. E ainda tem o crescimento grupal da folha. Então, não se pode usar falas assim soltas para resolver problemas complexos
No sistema previdenciário do Rio de Janeiro, em que todos são aposentados e pensionistas, e está no sistema financeiro, não se renova nada, porque todos os concursados vão para o sistema previdenciário novo, que está em azul, mas o financeiro está em vermelho, e nunca mais vai sair do vermelho, porque a cada dia o buraco da contas aumenta mais.
Analisando a curva atuarial do Rioprevidência, vemos que, somente lá para 2054, quando a maioria dos aposentados e pensionistas deverá ter idade para falecer, o rombo irá acabar, porque hoje não tem mais saída, não é alimentado com mais nada. Então, não tem saída, diferentemente de São Paulo.
O sistema previdenciário precisa de saída nacional
O sistema previdenciário vai precisar de saída nacional. Era necessário juntar tudo, fazer grande fundo para aplicar, investir, porque as saídas locais estão difíceis. No Rio de Janeiro, já há recomendação, do ano passado, do Tribunal de Contas, de que nos gastos de despesa de pessoal sejam computados os royalties e participação especial pagos para os inativos e pensionistas. E, agora, neste ano, quando considero que isso vai ocorrer, vamos aprovar o PLP 101, da renovação do Regime de Recuperação Fiscal, por mais uma década. E essa é uma das condições, o que vai agravar muito mais, porque, se vão alocar em despesa de pessoal royalties e participação especial que, em ordem de grandeza, são de 14 milhões, dos quais 80% irão para o Rioprevidência, ela irá para mais de 70%, facilmente.
Tudo isso precisa ser mais bem ponderado, porque, como é eleição muito curta.
A disputa em São Paulo
Chamo a atenção para isso, porque também estou curioso, tentando acompanhar o duelo que está havendo em São Paulo, fruto da importância do Estado para todo o Brasil. Em São Paulo, só faltava o apoio do PSB ao Boulos, que lançou a candidatura do Márcio França. O PDT faria essa declaração na sexta-feira, a Rede se posicionou, o PT se posicionou e se formou ali o leque, realmente, de unidade da esquerda, com exceção ainda do PSB. É eleição que tem caráter ideológico, evidentemente. Também é muito interessante esse jogo das forças políticas do nossos país.