Começo minha análise do processo eleitoral de domingo 15, lembrando, que no dia 15 de novembro comemoramos os 131 anos da Proclamação da República. E República e Democracia são indissociáveis.
Esta preliminar é básica, para que possamos entender o pleito de 15 de novembro. Pleito eleitoral, a cada dois anos no Brasil, sempre refletirá tensões e contradições que vive a sociedade no momento do pleito.
O papel das tensões e contradições
No processo eleitoral para presidente da república, governador e senador, as tensões e contradições são aquelas que representam a média do país; quando a eleição é para prefeito e vereador, as contradições e tensões representam cada um dos municípios.
O eleitor sempre tem razão
Aprendi, ainda muito jovem, que, numa república e numa democracia, ganhemos ou percamos a eleição, tenhamos vitória política ou derrota eleitoral, o eleitor, que é a população do município, estado ou país, sempre tem razão. Vejo muitas reclamações de que o eleitor errou. Mas não errou, porque sua opinião representa aquilo que absorveu e sentiu das contradições que havia no âmbito da sociedade.
Eleição majoritária – nulo, branco e abstenções
A primeira parte do meu comentário refere-se à eleição majoritária da cidade do Rio de Janeiro, que foi atípica. Somando abstenção, voto nulo e branco, vai dar mais de 50%. Jamais vi no Rio de Janeiro soma tão alta. Logo, as votações reduziram-se à metade do seu potencial.
Como é média, evidencia-se também que na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro a abstenção foi maior ainda. Em consequência, candidatos da zona oeste, principalmente à vereança, tiveram redução maior ainda nos seus potenciais de votos.
Os políticos se mexeram de forma errada
O resultado da eleição refletiu as contradições da população. Por que hoje temos 2º turno entre Eduardo Paes e Marcelo Crivella? Por que não foi outro para o 2º turno, visto que Marcelo Crivella tinha rejeição de 60%? Por questão que não é do eleitor, mas de matemática. As forças ditas de esquerda apresentaram três candidaturas, o que dividiu os votos. Se somarmos os percentuais recebidos pelas 3 outras candidaturas – 11% + 11% + 4%, chegamos a 26%. Teríamos uma outra candidatura disputando, provavelmente, o 2º turno.
Não há eleitor que votou errado. Os políticos – e me incluo – se mexeram de forma errada. Tanto é verdade que, assim que se abriu pesquisa eleitoral para o 2º turno, aparecem Eduardo Paes com 70% e Crivella com 30% – e só haverá duas candidaturas. Se esse será o resultado, não sabemos, mas reflete o momento de abertura de 2º turno, que vai durar apenas 15 dias.
Eleição de vereador – maior dificuldade
A segunda parte do meu comentário refere-se à eleição mais difícil de todas, e talvez alguns aqui já tenham vivido essa experiência. Ser candidato majoritário é muito interessante, porque você é o foco das atenções e discute o município como um todo. Mas, quando você é candidato a vereador, a eleição é duríssima. Você concorre com 1.500, 1.600 candidatos; muitas vezes, há pessoas que querem votar em você, mas têm parente ou amigo que também é candidato. Todos, portanto, têm muita dificuldade, com exceção dos nomes já consagrados há muito. Mas, para o restante, é duro e difícil.
Já fui candidato a vereador e, em todas as eleições, pelo menos na capital, apoio candidato à vereança. Por mais prestígio que você pense ter, transferir voto para alguém é muito difícil; claro que sempre se consegue, mas é difícil. A história de padrinho nas eleições, na candidatura majoritária, não tem quase efeito nenhum; é efeito simbólico, só para dizer quem você tem a seu lado. Mas, para a candidatura de vereador, até tem efeito, só que não na dimensão que muitos imaginam; vai depender do esforço e da história de vida de cada candidato. É interessante entendermos esses princípios para analisarmos o resultado.
O efeito meteoro na eleição e sua deterioração
Não quero nominar partidos políticos, mas, na eleição passada, para presidente da república, tivemos alguns meteoros políticos que arrastaram muitos votos. Aqui, na Assembleia Legislativa, por exemplo, passou um meteoro que elegeu 12; mas, desse meteoro, apenas dois anos depois, sobraram fragmentos dos fragmentos de meteoritos: o resultado das urnas na capital acusou apenas um vereador. Teve meteoro maior, que foi para a presidência da república, mas que também, no Rio de Janeiro, perdeu muita substância, embora isso não queira dizer que saiu do jogo político, de jeito nenhum. Mas passaram-se 2 anos e o quadro mudou.
Respeito à sabedoria popular: república e democracia como bens indissociáveis
A sabedoria popular está exatamente aí. Quando ela vê alguém muito estruturado, como foi o caso de dois anos atrás, resolve pregar uma peça: vamos desestruturar isso, porque está passando dos limites. Está fazendo a mesma coisa agora. Sempre me surpreendo positivamente com a sabedoria popular, o povo sabe votar, o povo sabe escolher. Os exemplos negativos são exceções e não são regras. Se não acreditarmos na sabedoria popular, não poderemos acreditar que república e democracia são bens indissociáveis.
Quero deixar isso muito claro, porque já ouvi muitas vezes, depois das eleições, muitas pessoas negando a capacidade de escolha do povo. Volto a reafirmar: há muito bom senso na sabedoria popular. Tudo que ouço de negativo diz respeito às exceções e não à regra geral.
Quero acrescentar que, na capital, escolhi apoiar vereadora que foi reeleita, Teresa Bergher, do Cidadania, partido ao qual pretendo filiar-me em breve.
Precisamos festejar os não eleitos: pavimentaram o terreno para os eleitos
Nas eleições de vereadores, festejamos os que foram eleitos, mas esquecemos, muitas vezes, aqueles que não foram, mas ajudaram muito a formar a nominata e, por via de consequência, contribuir decisivamente para o coeficiente eleitoral da sua legenda.
Aqui, no Rio de Janeiro, o coeficiente eleitoral foi, aproximadamente, 51 mil votos. Pergunto: quantos vereadores tiveram mais de 51 mil votos? Talvez 4, em 51. Por via de consequência, 47 se elegeram com voto dos que perderam a eleição.
É muito importante a construção de partido político. É entidade muito desacreditada, mas, se não constrói partido político, não há coeficiente para eleger grandes bancadas. Vejam no Rio de Janeiro: 3 partidos fizeram 7 vereadores. O maior partido de oposição na Câmara de Vereadores fez 7, o PSOL. O que representa o governo Crivella fez 7 vereadores – afinal de contas, sendo governo, sendo a máquina, também faz voto. E o partido que tirou o primeiro lugar no 1º turno, o DEM, também fez 7 vereadores. Por que esse resultado desses partidos? Porque montaram nominata capaz de somar aproximadamente 300 mil votos, o que representa muito voto numa nominata de vereadores.
Não façamos análises superficiais, entendamos o processo eleitoral e respeitemos o voto popular. Dessa forma, respeitaremos a democracia.