por Luiz Paulo
Estou entusiasmado com o pesquisador Nei Lopes. Em matéria de página inteira no Segundo Caderno de O Globo, há o seguinte destaque: “O futuro a Nei Lopes pertence. Em seu 40° livro, pesquisador revisita rito de adivinhação da religião dos orixás, enquanto vibra com a atual ebulição antirracista, entre aspas. Ele afirma: ‘É preciso que todos saibam o quanto o mundo deve à África.’”
Resgate da tradição
É importante que os que lutam contra o preconceito leiam essa matéria, que versa sobre o 40° livro desse pesquisador importante, cujo título é Ifá Lucumi, o resgate da tradição. O Ifá é sistema que reúne análise combinatória, filosofia e arte. E mostra a sabedoria do povo africano dentro do seu rito do candomblé, combinando filosofia e arte, exatamente para encontrar melhores decisões para suas vidas. Festeja a conscientização deste momento da sociedade na luta antirracista, com tantos movimentos que eclodiram em tantos países do mundo, tendo como foco central os Estados Unidos. Lá levaram um negro à morte por estrangulamento. Aqui no Brasil, ainda há pouco, quase levaram à morte uma mulher negra, também pisando no pescoço dela. Isso foi feito por um policial.
Ora, este era o momento em que ia falar sobre esse tema com satisfação, porque é mais um livro para mostrar a importância da África entre nós. Mas recebi agora mesmo matéria também do G1, que diz: “Duque de Caxias anuncia a construção de creche em terreno considerado sagrado pelo candomblé.” O antigo terreiro de Joãozinho da Gomeia está abandonado atualmente.
Preservar e não destruir
O Instituto do Patrimônio Cultural, Inepac, estruturou recesso de tombamento e a prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, quer começar a construção de uma creche em terreno que é considerado lugar sagrado para o candomblé. Está abandonado atualmente, com foco de dengue, com animais no local, com todo tipo de abandono possível em qualquer terreno baldio.
Prefeito de Caxias quer turvar solo sagrado
Mas, nem por causa disso, o terreiro de Joãozinho da Gomeia, do baiano João Alves Torres Filho, um dos pioneiros do candomblé na região sudeste, deixa de ser solo sagrado para o candomblé, muito importante nas décadas de 50 e 60. O prefeito de Duque de Caxias quer turvar esse solo sagrado, quando a iniciativa dele deveria ser juntar-se com o poder executivo para fazer a preservação dessa área e não destruí-la, como se não fizesse parte da história do nosso estado do Rio de Janeiro e da nossa própria baixada fluminense.
Racismo institucional
Quero mostrar como o racismo institucional é cada vez mais forte, apesar de todas as lutas antirracistas, com o desejo da predominância de uma religião sobre a outra, como se o estado não fosse laico. É desrespeito profundo às nossas origens africanas, não reconhecendo que todos nós, estejamos em qualquer parte do mundo, somos originários da África. O fóssil mais antigo que existe é chamado pelos cientistas de Eva Mitocondrial, encontrado justamente na Mãe África, origem de todos nós.
Na contramão do mundo
Mesmo no Brasil, este país miscigenado, o racismo se faz presente exatamente em todas as áreas, principalmente no campo religioso. Desrespeitar o solo sagrado do candomblé é desrespeitar a nossa cultura, é desrespeitar as nossas origens, é desrespeitar a nossa ancestralidade, é negar a nossa própria origem enquanto raça humana na face da Terra.
Abri esta fala com notícia muito positiva, o lançamento do livro do Nei Lopes, e encerro abordando essa ação da prefeitura de Duque de Caxias na contramão das lutas antirracistas de todo mundo. Mas iremos resistir.