por Luiz Paulo
Quero analisar a atitude truculenta, desmedida, desnecessária, chegando a criminosa do prefeito da cidade do Rio de Janeiro, quando, na madrugada de domingo para segunda-feira, com as máquinas da prefeitura, destruiu as cabines de pedágio da Linha Amarela.
Na quinta-feira próxima passada, havia dito nesta tribuna que vivíamos uma crise geral de esquizofrenia, e quisera eu que o prefeito tivesse surtado, porque aí poderíamos ter, no mínimo, comiseração. Mas fez de modo pensado, revelando seu pior lado em busca de apoio eleitoral, destruindo as cabines que não lhe pertenciam. Porque, se é uma concessão, quando fosse extinta, pertenceria à cidade do Rio de Janeiro e logo não é dele. Mas, sob o regime de concessão, está sob os cuidados da iniciativa privada.
Uma concessão, independente da concessionária estar com a possibilidade de cobrar tarifa maior, no âmbito judicial, deve ser ressarcida ao usuário, porque a concessionária estaria lesando o usuário e não a prefeitura.
Como se compensa o usuário que está sendo lesado? Você acorda na Justiça, apresentando uma conta bem feita, o valor pretérito que o concessionário cobrou a mais, multiplica pelo volume médio diário dos veículos que passaram dia a dia e chega no montante cobrado a mais. Durante x dias, correspondentes a esse valor, deixa as catracas do pedágio abertas, levantando-as, para compensar esses ganhos que a concessionária teve. Isso, na Justiça.
O prefeito dá o recado para a sociedade – e ele se apresenta como evangélico – de que toda divergência deve ser resolvida na violência, na marra. Quando exatamente o contrário deveria ocorrer. A solução deve ser através Justiça e não surgir da truculência.
Imaginem que haja algum setor empresarial que queira investir no Rio. Com esse prefeito, não o fará jamais. O prefeito cometeu, no mínimo, crime de improbidade administrativa ao depredar patrimônio público. Não obedeceu ao contrato de concessão.
O pior e mais grave: o Tribunal de Justiça deu liminar para que mantivesse a Linha Amarela em funcionamento com cobrança do pedágio, fato que não mais pode ocorrer, por determinado período, para recuperar o sistema destruído. Enquanto isso, o Tribunal de Justiça imputou a multa de 100 mil reais por dia, que virá do bolso do contribuinte, principalmente os submetidos à extorsão do IPTU, que, por acasso, esqueceu de citar nas entrevistas. Se a prefeitura ainda não quebrou, e marcha a passos largos para isso, em função de gestor profundamente incompetente, é porque é cobrado ano a ano um IPTU extorsivo da população de nossa cidade.
O prefeito, que deu o pior dos exemplos para a população, chama-se Marcelo Crivella, que se diz homem de Deus. Truculento, populista, capaz de qualquer medida, por mais desatinada que seja, para tentar angariar simpatia popular. Mas o tiro que ele deu, com a arma da agressividade, possivelmente sairá pela culatra, porque a população, principalmente a que passa pela Linha Amarela, tem inteligência suficiente para verificar que aquilo é puro oportunismo, especialmente quando vem a público e diz: “Agora a gestão vai ser com a prefeitura”. Se a Linha Amarela estivesse sendo gerida pelo prefeito Crivella, estaria esburacada de ponta a ponta, como acontece em todo o Rio de Janeiro. Agora, de forma populista, faz um rejuvenescimento de pavimento, tipo ‘engana-trouxa’ em período eleitoral.
Acompanho gestões do Rio de Janeiro desde a época em que éramos Estado da Guanabara. Jamais, em todo esse período – e se vão mais de 50 anos – vi um prefeito tão incompetente, tão truculento e tão populista. Uma tragédia a mais para o povo carioca.