O parlamento é o terreno apropriado para o exercício do contraditório, mas esse exercício é o da retórica: cada um na defesa dos seus pontos de vistas. Tenho observado na atuação de alguns parlamentares uma elevação de tom, como se fossem ganhar discussão no grito. Não é o grito que define a razão. A razão não é proporcional nem à impostação da voz nem ao volume que ela tem. Essa é uma questão que gostaria de destacar quanto à atuação dos parlamentares em momentos em que as divergências se acirram. Não é vencedor de uma discussão aquele que usa palavras fortes ou até vis, para impressionar quem está ouvindo. O vencedor deverá ser quem conseguir convencer um número maior de parlamentares.
Além disso, não é o uso desmedido da força e da truculência que fará alguém vencer um debate de caráter ideológico ou até mesmo de tema pontual. Eloquência não é sinônimo de agressividade. Precisamos moderar o tom, até para que fique compreensível para quem nos dá audiência – o cidadão fluminense – de que tema estamos tratando. Com motivos e razões. Este é um sinal de respeito ao cidadão-expectador.
Há pouco, refletia em plenário com algumas pessoas, lembrando-me de um psiquiatra da década de 40, nascido em Cuba, criado na Espanha, que, no final de sua vida no Brasil, morou no município de Petrópolis. Chamava-se Mira y López. Ele dizia que a alma tem quatro gigantes: o amor, o ódio, o medo e o dever.
Na verdade, amor e ódio são polos opostos do mesmo sentimento, assim aprendi com a dialética. E medo e dever, no meu entendimento, também são polos dos mesmos sentimentos. Não acredito que outros possam achar que esse gigante da alma, o medo, irá tomar conta das nossas ações. Parece-me, no entanto, que alguns deputados mais jovens acham que assustam os outros. Devem reavaliar esse comportamento, porque não vão impor medo pela sua volúpia oral, pela sua complexidade física, ou, até, porque sabem manejar armas. Isto não cabe numa casa legislativa. Aqui é espaço de debate, de ganhar ou perder levando-se em conta a argumentação e a correlação de forças da diferentes correntes aqui representadas. Aqui não é lugar de ter medo de ninguém. É lugar de defender os interesses da população de acordo com suas crenças.
Na Alerj, onde há representação de variados segmentos de pensamentos, ninguém vai se render à política de implantação do medo. Precisamos ser a casa da razão, do contraditório, do respeito que todos têm que ter entre si. Contrariamente a isso, a pauta do desrespeito, da política do medo, da agressão oral, que muitas vezes se aproxima até da física, tem surgido aqui. É grave erro. Porque passa a não haver vencedor. Todos perdem, principalmente o parlamento. Tudo o que aqui acontece está sendo transmitido pela TV Alerj, ou um conjunto de funcionários e repórteres estão no fundo do plenário para, amanhã, transportar isso para o noticiário dos jornais. E lembro que, sob o ponto de vista da comunicação pela internet, isso acontece em tempo real. É necessário que as bancadas se reúnam e definam o rumo de comportamento para apaziguarem os ânimos. Senão, daqui a pouco, vamos ver episódios desagradáveis. Um homem não pode discutir com outro com dedo em riste e próximo do rosto porque – aprendi isso nos subúrbios do Rio –, invariavelmente, a partir daí surge a agressão.
Espero que consigamos avançar, que se faça façam uma reflexão. Não é com medo que vamos vencer nada. Nossa obrigação no plenário é reverter a política do medo para ter a política da razão.