Quarta-feira, 16 de Dezembro de 2015 09:05
Como epígrafe, um trecho das agora populares Catilinárias. Mais uma boa contribuição da Polícia Federal.
“Até quando, Catilina, abusarás”
Da nossa paciência?
Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?
A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?”
A Operação Lava Jato já caminhou um terço durante o ano, mas ainda faltam outros dois terços e, seguramente até lá, mais de cinco mil pessoas estarão indiciadas por esse sistema de delação premiada, que chegou em muito boa hora. E, calculando em cinco mil, estou sendo magnânimo, pois o Brasil tem mais de cinco mil municípios. Neste exato momento, em cada um desses municípios, possivelmente há uma quadrilha de dez corruptos agindo. Se isso for desmontado, esse número subirá para 50 mil. Veja a grandeza da malha de corrupção.
Na semana passada, explodiu em imagens da TV, um escândalo envolvendo uma organização social responsável por hospitais da cidade do Rio de Janeiro, administrada por dois irmãos e que patrocinou um assalto ao Tesouro municipal em grande escala. Dezenas de joias foram mostradas, relógios caríssimos, carros importados do mais alto valor, uma mala, com 1,5 milhão de reais, em espécie. Isso no Rio de Janeiro, em apenas uma organização social que operava dois hospitais: o Pedro II e o Ronaldo Gazola, que é o Hospital de Acari. E é triste ver um idealista, como o foi o saudoso Ronaldo Gazola, ter o nome falado por causa dessa quadrilha que assaltava a Saúde.
Pretendo trabalhar em um pedido de auditoria ao Tribunal de Contas em todas as organizações sociais que prestam serviço ao Estado, porque, se, de um lado, temos que aumentar a receita, de outro, temos que diminuir a despesa. Acho que os contratos de organização social, principalmente os grandes contratos, não resistem a uma auditoria. Haverá lá, seguramente, salários díspares em relação ao mercado; haverá lá dezenas de nomes que constam da folha, mas não trabalham; haverá lá funcionários públicos, ganhando pelos cofres públicos e ganhando pela organização social, fora o descontrole total na aquisição de insumos e medicamentos. Garanto que, se houver uma auditoria bem feita, esses contratos, no mínimo, serão reduzidos em 25 %. É preciso apertar o torniquete da fiscalização com a mesma competência que Ministério Público e Polícia Federal apertam o cerco aos corruptos federais. Diante das demonstrações permanentes da insaciabilidade humana quando se fala de dinheiro, mesmo com o aumento das punições, esta tornou-se uma grande função a ser exercida pelos poderes executivos, legislativos e Judiciário.
Por isso, este é um momento histórico importante. Independente das divergências políticas, não é mais possível termos um país que não tenha dignidade por causa dos seus gestores; um país em que a máxima é governar sem ética, sem honra, desrespeitando os cofres públicos, avançando no erário, enriquecendo ilicitamente. É preciso que se substitua a discussão pura e simples de projetos de poder por discussão de ideias e valores.